No
sentido de pugnar o nocivo confinamento das mentes em corpos já de si
confinados por imposição durante semanas morosas e infindáveis, pelas
implicações inerentes e subsequentes na proliferação de uma outra pandemia
severa de doença mental, urge, hoje como ontem, ser grito que se erija na
promoção do valor imensurável da vida, permitindo que, na solidão e no silêncio
que esmagam, se veja consolo e abrigo nas palavras.
Assim,
hoje como ontem, impera salientar que a vida nunca deixará de ser total primavera,
qual doce e fantasiosa quimera, descobrindo em cada cheiro novo anseio e em cada
vista nova eterna conquista. Abracemos a poesia, que só quebra a sua rima
quando desagua, por fim, na pífia alacridade do sopro irreversível do
inexorável prazer de ser que se esvoaça.
De
facto, a verdade é que ser só o somos uma vez e inteiro seremos se, com avidez,
nesta fugaz e traiçoeira passagem, pincelarmos a vida qual bela miragem. Neste
prisma, hoje como ontem, olhemo-nos do monte mais alto, revendo o nosso
sobressalto e, em hipnose ou sono profundo, procuremos tomar parte do mundo,
plantando em pranto errante, nómada hesitante, o elevar vagueante do Norte,
fazendo da sorte o sim da estrada. Levantando marés, tocando as estrelas e
roubando centelhas ao fogo dos céus, procuremos libertar a dor dos infernos e
amainar ventos desertos de cor. Deste modo, dando mundos ao mundo, será prenha a
esperança no ressurgimento dos ares que trarão de novo o amor na raiva da dor e
verão nascer tua luz que seduz, meus olhos, meio e anseio, que em rodopio de
sentidos, unidos, tão mais rotinada, farão aceitar-te em mim, por fim, presença
de coração alheio.
Luís Fernandes, 4º ano
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