O que me (in)diferencia?
De regresso a um novo ano letivo, abrimos
as portas a uma nova edição da aNEMia, a revista que os estudantes de Medicina
da FMUC constroem, estruturam, criam e na qual investem o seu tempo, a sua
dedicação, a imaginação que os deixa fluir para além de todos os conceitos
permanentemente estudados e avaliados, assim como um completo rigor científico
associado a todo o trabalho de pesquisa e investigação. A aNEMia é vivida muito
para além do papel que os nossos colegas folheiam, é vivida diariamente e é,
sobretudo, debatida seriamente. Conservando este conceito, a revista deu um
passo importantíssimo nesta transição que a fez ascender a Departamento do
NEM/AAC, transição acompanhada por um desafiante lançamento da 55ª edição a 11
de setembro de 2019, a par de um debate que questionou todos os presentes
acerca de uma temática que se traduz numa cada vez maior preocupação: a
existência de médicos indiferenciados.
Deparámo-nos com esta condição que nos
circunscreve e não sabemos, nem podemos saber, ficar indiferentes; não nos
preocupamos diretamente com o número avassalador e crescente de indiferenciados
que existem, mas ficamos realmente assustados com a possibilidade de nós virmos
a ser um deles, mais um deles. Porque os indiferenciados são os nossos colegas,
os colegas que estudaram arduamente durante 6 anos para alcançarem um estatuto
que os encosta na margem e os impede de prosseguir na especialidade, de
continuar a sonhar e de exercer a profissão pela qual percorreram o longo
caminho inacabado, interrompido, obstruído por um país que parou, um Portugal
conformado e estagnado.
A colaboradora da Redação e autora do
artigo que gerou toda a atividade, Sara Meirinhos, introduziu o tema como “um
dos maiores flagelos da formação médica” e de seguida o moderador da mesa, Dr.
João Nunes, Interno de Formação Geral no CHUC, deu início ao debate questionando
os convidados sobre quais consideravam ser os fatores que deram origem a esta
problemática. Perante uma plateia completamente preenchida, um dos cinco
oradores presentes, Vasco Mendes, Presidente da ANEM, responde que, desde 1995,
o curso de Medicina tem aumentado o número de vagas, desprovido de um plano
formativo e não acompanhado por perspetivas a longo prazo. Na mesma linha, o
Prof. Dr. Carlos Robalo Cordeiro, atual Diretor da FMUC, comenta que “Portugal
gosta de dar grandes passos sem fazer a devida estruturação”, apoiado pelo
reforçado “mau planeamento” referido pelo Dr. Fausto Pinto, Presidente do
Conselho das Escolas Médicas Portuguesas. Um desses casos é a alteração da
prova final de acesso à especialização que necessita de várias adaptações
subsequentes, nomeadamente dos currículos para a prova. Para além destes
fatores, também o componente político deve ser tido em conta como afirma o Dr.
João Cardoso, Interno de Cirurgia Cardiotorácica no CHUC, uma vez que dizer
“aumentamos o número de estudantes de medicina” fica bem politicamente. O Dr.
Luís Trindade, Presidente do Internato Médico do CHUC, conclui que o número de
estudantes depende da formação e esta última da qualidade, logo, devemos
refletir sobre a qualidade que pretendemos para este curso com uma média de 30
anos de serviço.
Sendo cada vez mais evidente a existência
dos médicos sem especialidade, é colocada uma nova questão que se centraliza no
papel destes médicos no SNS, perante a qual são mencionadas tarefas múltiplas
asseguradas por uma mão-de-obra barata. “À partida, quem faz medicina é médico,
mas que modelo queremos?”, é a pergunta lançada pelo Dr. Fausto Pinto, uma vez
que devemos perceber se pretendemos investir numa diferenciação correta com a
devida monitorização ou prolongar esta situação, mantendo alguns de parte para
outras funções. Apelando a todos nós, o presidente do CEMP afirma que existe
uma grande inércia e, portanto, temos de ser criativos nas soluções e
propostas. Na verdade, segundo Vasco Mendes, os indiferenciados representam um
encargo mais significativo na gestão hospitalar relativamente aos outros
profissionais de saúde, dadas as contratações através de empresas (geridas por
Médicos Especialistas…) sobretudo num país com elevada recorrência ao Serviço
de Urgência. Grande parte da frente de ataque das urgências é, neste momento,
assegurada por indiferenciados para satisfazerem as necessidades que deveriam
ser confiadas a outros.
Com o avançar da noite, tornou-se notável
a necessidade de nos fazermos uma voz cada vez mais firme e audível, de
transmitirmos a vontade de nos diferenciarmos e de transformarmos este
conformismo sobre o qual os políticos dormem tranquilamente. Quando questionado
sobre o papel ativo de um estudante na resolução desta problemática, o Dr. Luís
Trindade estimulou a proatividade dos presentes e acrescentou que não devemos
deixar fragilizar a nossa estrutura, fazendo notar que a ausência de uma
Comissão de Internos, quando existem cerca de mil, é uma falha a colmatar. O
Dr. João Cardoso declara que é efetivamente vantajoso estar envolvido em
associações que nos representam, no entanto, não nos devemos esconder atrás das
grandes estruturas, devendo investir na voz conjunta que ecoa no nosso futuro,
espelhada na força que nos impele a viver o sonho pelo qual abdicamos de estar
noutro lugar a pensar noutra perspetiva qualquer. Queremos mais e temos o
direito de concluir qualitativamente o curso pelo qual conquistámos, um dia, a
nossa vaga, o nosso “sim”. Ser indiferenciado não é, de todo, o objetivo pelo
qual fomos admitidos em Medicina.
Para terminar, procurou-se responder à
questão “Partindo do princípio de que não queremos médicos indiferenciados no
país, quais as medidas a ser tomadas nos próximos tempos?”, concluindo-se que é
imprescindível uma maior comunicação entre os órgãos responsáveis e uma
passagem definitiva da teoria para a prática. Para além disso, considerou-se
problemático o facto de a Ordem dos Médicos não possuir um gabinete dedicado ao
ensino pré-graduado, pois a existir promover-se-ia uma conversa e,
consequentemente, a resolução de vários problemas.
Encerrado o debate, a noite avançou com
uma nota sobre a Conferência Médica “Call Me”, a realizar-se nos dias 25, 26 e
27 de outubro, onde este também será um tema de destaque. Depois dos
agradecimentos e breves palavras de encorajamento do Dr. Robalo Cordeiro, o
evento terminou com um coffee break preparado pelos colaboradores do
departamento, dando asas a mais um tempo de convívio e discussão pessoal. A
revista, na sua totalidade, expôs-se aos mais diversos olhares, foi tocada e
explorada, foi levada e finalmente lançada.
Agora que expusemos esta indiferenciação à
qual estamos sujeitos, não nos deixaremos acomodar; apostaremos na continuidade
e na insistência de uma história alarmante vivida atualmente por médicos que
não queremos que seja a nossa.
Inês Teixeira, 3º ano
Maria Gomes, 3º ano
Errar é Médico
Dificilmente se podia ter escolhido um título mais problemático. Se “errar é humano” e se “um médico é deus, e não humano” (como muitos médicos gostam de ser olhados), então poderíamos talvez deduzir que “errar não é médico”. Ora tal é, se me perdoarem a redundância, um verdadeiro erro. O nosso primeiro defeito está em assumirmos que os médicos nunca se enganam. Quanto mais tempo passo no hospital, mais sou relembrada das falhas que são inerentes aos atos médicos.
Em Portugal, os médicos raramente falam sobre os erros – pelo menos, chega muito pouco aos mais novos, nomeadamente aos estudantes de medicina. Não só é um tema quase tabu, como também a nossa formação médica não inclui geralmente aulas sobre o que é o erro médico e como lhe podemos fazer face – muito provavelmente, porque nem sequer sabemos abordar este assunto. Os médicos portugueses têm o hábito de evitar falar sobre os erros dos outros, por medo de que um dia eles próprios venham a ser criticados.
Portugal encontra-se, pois, manifestamente atrasado em relação a outros países que, por anos de experiência a tentarem combater erros no diagnóstico e no tratamento de doentes, chegaram a conclusões bem estabelecidas sobre o porquê das falhas dos médicos e como as combater.
Muitos já terão ouvido falar acerca da analogia entre a medicina (em especial, os procedimentos cirúrgicos) e a aviação. Esta última foi sofrendo uma marcada evolução ao longo das décadas, culminando numa segurança quase irrepreensível dos seus passageiros. Numa cirurgia, existe um cirurgião principal e o seu assistente (havendo ainda a enfermeira-cirurgiã e podendo haver mais cirurgiões assistentes). Num voo, temos um piloto e o seu copiloto, bem como a restante equipa de bordo. Há o descolar (indução da anestesia) e o aterrar (retirada da sedação). Existe um controlo prévio dos passageiros antes de poderem entrar no avião, bem como existe uma decisão médica prévia sobre se um determinado doente é candidato a cirurgia ou não. Poderia enumerar muitos mais paralelismos, mas o importante é o que podemos retirar disto – nomeadamente, as lições que a aviação nos pode dar de modo a evitarmos o erro médico:
1 – Torre de controlo – todos os médicos devem ter a sua atividade supervisionada. A “torre de controlo” deve ser um médico com (boa!) experiência e que saiba igualmente ensinar. Durante um estágio no estrangeiro, aprendi que certas instituições efetuam gravações de cirurgias (nomeadamente as laparoscópicas e robóticas) que depois são revistas por um ou mais cirurgiões peritos na área em questão. Tal permite registar possíveis erros e perceber melhor porque ocorreram; as gravações vídeo permitem também o seu uso posterior em sessões de formação para cirurgiões, de modo a que estes últimos estejam alertados para tais possibilidades.
2 – Simulação – é obrigatório que os pilotos, antes de começarem a pilotar aviões reais, pratiquem um número mínimo de horas em simuladores de voo. Também os médicos deveriam poder treinar virtualmente qualquer ato médico ou cirúrgico num modelo (em computador, manequim ou cadáver) antes de passarem para um doente. Como o leitor saberá, tal dificilmente corresponde à realidade em Portugal.
3 – Checklists – antes de descolar, estarão todos os motores operacionais? Haverá algum problema nos controlos do avião? A quantidade de gasolina será suficiente para a viagem? Os médicos têm também a obrigação de verificar que “tudo está a postos” antes de iniciarem uma intervenção. Existem já checklists preparadas por peritos internacionais, como a WHO Surgical Safety Checklist, que reúne vários pontos cruciais a ter em conta numa cirurgia, tais como a certificação da identidade do doente, marcação do sítio correto a operar, existência de alergias por parte do doente, entre outros.
O caso mais recente de erro médico que fez escorrer muita tinta jornalística foi precisamente o de um obstetra que tinha simplesmente “degenerado” como médico (assumindo que os erros que cometia não vinham já desde o início da sua carreira). Este caso não é uma novidade, e o fenómeno de médicos que a certo ponto da carreira começam a falhar sistematicamente, por motivos de deterioração de saúde mental ou outros, é já conhecido noutros países. Se houvesse uma torre de controlo, imparcial e abrangente, provavelmente ter-se-ia evitado estes e outros tantos erros.
Podíamos falar aqui de mil e um exemplos de erros cometidos por médicos. É importante conhecermos estas histórias para não as repetirmos nós próprios, mas, infelizmente, o que é passado já nunca se poderá alterar. Está bem estabelecido que os sistemas que tentavam condenar o autor do erro, e não o erro em si, falharam tremendamente na sua missão de diminuir a ocorrência de falhas. Por mais que queiramos apontar o dedo a alguém, o mais importante é falar sobre o que correu mal. Em países anglo-saxónicos, atos médicos e cirúrgicos que tiveram um desfecho negativo são discutidos em reuniões à porta fechada entre os médicos de um determinado serviço ou hospital (morbidity and mortality conferences). Tal também não é uma prática corrente em Portugal, infelizmente.
Em jeito de conclusão, peguei nalgumas máximas da vida e tentei adaptá-las a mensagens que considero fulcrais para qualquer clínico em geral:
1 – Sê o médico que gostarias que alguém fosse para ti
· Olha-te ao espelho e pergunta-te a ti mesmo: “se viesse a ser tratado por alguém que soubesse tanto como eu, confiaria nessa pessoa?” Se a resposta for negativa, é imperativo que cada um reconheça a necessidade de aprender para poder inverter essa situação.
2 – A tua licença de médico acaba onde começa a dos outros
· Aproveita para ensinar. Poderás não trabalhar para sempre, mas os teus ensinamentos podem. Ser médico é também ser professor.
3 – Dreno mole em fígado duro, tanto bate até que fura
· Sim, um dia vais errar, por melhor médica(o) que sejas. Só não errou quem nunca fez nada. Embora não seja completamente evitável, podemos diminuir tanto a frequência como a gravidade do erro médico. Assim, esperemos que em vez de acertar no fígado, um dreno torácico fique apenas ligeiramente mal colocado, e que tal seja prontamente corrigido assim que o erro for detetado…
4 – Quem te avisa, teu doente é
· Se uma doente afirma que tem um nódulo mamário e o médico responde “Não tem nada!”, atrasando o diagnóstico de cancro de mama por vários meses (história verídica), o mesmo não pode voltar a acontecer no futuro com outras doentes.
5 – Ignorância é infelicidade
· Já ouviram dizer que a ignorância significa felicidade? No caso dos médicos, é uma total calamidade. Somos todos perfeitos? Mais uma vez não, mas há sempre coisas básicas que devemos saber: se, por exemplo, achas que não há problema em prescrever enalapril a uma grávida, talvez seja altura de atualizares os teus conhecimentos!
6 – O erro não morreu solteiro
· Importa salientar que, muitas vezes, não foi um único médico quem levou ao desfecho negativo; foi também, por falta de atuação dos restantes médicos que deixaram que o erro permanecesse ou, até, se repetisse. Não é só o erro que pode resultar de um “trabalho” coletivo, mas também a própria prevenção deste pode ser feita em equipa. Por exemplo, um médico pode vir a prescrever uma medicação errada para um determinado doente; se outro médico ou profissional de saúde se aperceber desta falha e a corrigir antes da administração do fármaco, teremos evitado potenciais problemas para o doente.
7 – A justiça é cega e a medicina é muda
· Os médicos tendem a olhar para o lado e calar-se sempre que um colega “faz asneira”. Novamente, o autor do erro, apesar de em casos muito graves dever ser punido, é quem menos nos interessa. Falar de um erro não significa envio para a prisão; contudo, pela comunidade médica temer demasiado as represálias, acaba por não querer falar dos erros em concreto – esquecemo-nos, pois, que os erros de uns são as lições de todos.
8 – Quem tem medo, compra um livro
· O medo, em dose adequada, pode ser um bom medicamento contra o erro médico. O excesso de confiança poderá levar aos maiores erros da carreira de um médico. Importa, pois, manter a dose certa de medo, a correr em contínuo como um soro endovenoso…
Uma discussão sobre o erro em medicina necessitaria de um livro inteiro para que fosse minimamente cabal. Contudo, os estudantes de medicina portugueses têm hoje ao seu alcance palestras onde este assunto pode ser abordado, o que é ainda mais importante dada a possibilidade de o fazerem de um modo interativo. Nos dias 16 e 17 de novembro de 2019, decorrerá a 6ª edição do Congresso Nacional de Estudantes de Medicina (CNEM), em Lisboa, que trará este tema para uma Sessão Paralela, juntamente com tantos outros. Discutir o erro será, pois, a escolha mais acertada.
Eduarda Sá-Marta, 6º ano
Terapêuticas Não Convencionais
A
“Lei do enquadramento base das terapêuticas não convencionais”, Decreto Lei no
45/2003, 22 de agosto, estabelece o “enquadramento da atividade e do exercício
dos profissionais que aplicam as terapêuticas não convencionais, tal como são
definidas pela Organização Mundial de Saúde”. Considera que delas fazem parte
aquelas que “partem de uma base filosófica diferente da medicina convencional e
aplicam processos específicos de diagnóstico e terapêuticas próprias” e
esclarece que “para efeitos de aplicação da presente lei são reconhecidas como
terapêuticas não convencionais as praticadas pela acupunctura, homeopatia,
osteopatia, naturopatia, fitoterapia e quiropraxia”.
Apesar de terem
legislação própria, estas técnicas não têm regulamentação que lhes permita
aceder ao Sistema Nacional de Saúde (SNS), questão que se tem verdadeiramente
imposto neste último ano no universo da saúde.
A 25
de janeiro de 2019, o Jornal de Notícias noticiou a assinatura de uma declaração
conjunta entre a Ordem dos Médicos portuguesa e a congénere espanhola, Conselho
Geral de Colégios Oficiais de Médicos, “em que rejeitam as pseudoterapias e as
pseudociências e exigem que estas sejam retiradas dos serviços de saúde e dos consultórios
médicos”.
O
Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, vetou a 31 de janeiro
de 2019 o diploma do Governo que reconhecia interesse público à Escola Superior
de Terapêuticas Não Convencionais, argumentando que “as Ordens Profissionais
competentes não aprovam o ensino de terapêuticas não convencionais” e por “não
haver validade cientificamente comprovada”. Na nota publicada no website da Presidência,
foram ainda sublinhados os “recuos nesta matéria em países onde o seu ensino
tinha sido liberalizado”, e lembrado que em Portugal “apenas foram autorizados cursos
públicos deste tipo em dois Politécnicos, mas a título experimental e
temporário, tendo sido recusados a outras universidades privadas” e, por
conseguinte, “na ausência de garantias de futuro reconhecimento profissional
[...] neste momento, não há condições [para a aprovação deste diploma]”.
A 29
de março de 2019 foi noticiado pelo Jornal Observador o manifesto “Por cuidados
de saúde de base científica”, assinado por cerca de 700 pessoas, enviado a 26 de
março do mesmo ano “a todas as forças políticas com representação na Assembleia
da República e a três comissões parlamentares, juntamente com um pedido de audiência”,
de acordo com a Comcept (Comunidade Cética Portuguesa), promotora do manifesto.
Além de procurar destacar o “desperdício de recursos humanos e materiais”, alerta
para “danos diretos, objetivos e mensuráveis, ou indiretos” das terapias não complementares,
situação de particular alarme se forem integradas no SNS, principalmente pela
falta de evidência científica. O manifesto pede, assim, que seja revogada a
legislação própria a estas práticas. É afirmado que se “Portugal goza de níveis
de saúde a par com os melhores do mundo”, isso se deve ao facto de as práticas
médicas convencionais serem “cientificamente validados e em permanente
evolução”, e que a legislação “não traz qualquer benefício concreto à saúde dos
portugueses”, é “esbanjadora de recursos e, em última análise, deletéria para a
saúde dos portugueses”.
Armando
Brito de Sá, médico especialista em Medicina Geral e Familiar e membro da
Comunidade Cética Portuguesa, primeiro subscritor do documento, em declarações
ao Jornal Público, publicadas a 26 de março de 2019, defende que a intenção
“não é, de todo, proibir estas práticas”. “Regulamentá-las, sim, mas fora do âmbito
da saúde e não como disciplinas com igualdade científica, como se pretende fazer
atualmente em termos de cursos superior. Que sejam remetidas para o seu verdadeiro
lugar, o bem-estar, o lazer, e não como intervenções terapêuticas, de tratamento”.
Este
tema já deu mote ao programa de debate “Prós e Contras” do dia 1 de abril de
2019 da RTP1, contrapondo médicos, investigadores e praticantes destas técnicas
complementares, do qual se ressalva que a verdade científica deve prevalecer
sempre, e a maior validade científica só é garantida por ensaios randomizados
controlados revistos por pares, que não são efetuados pelos praticantes das
“terapêuticas não convencionais”. Também no programa “Olhe que não” da Rádio
TSF, de 13 de fevereiro de 2019, que colocou em debate o Bastonário da Ordem
dos Médicos, Miguel Guimarães, e o naturopata João Beles, foi trazido a público
o facto de os produtos aconselhados por estas “terapêuticas não convencionais”
estarem mal regulamentados, tendo um caminho alternativo para chegarem ao
mercado, já que não seguem as mesmas regras dos ensaios clínicos, não tendo que
passar por um longo e complexo percurso, à semelhança dos fármacos utilizados
na medicina convencional.
É
impreterivelmente importante a consciência de que são as forças políticas, por meio
dos Deputados na Assembleia da República, que fazem ou não avançar as políticas
em saúde. Que os saibamos sempre escolher.
Sara Meirinhos, 5º ano
O Rescaldo da Nova Prova
Segunda
feira, 18 de novembro, pelas 19h, decorreu um movimento em massa dos estudantes
de Medicina com repercussão a nível nacional – Porto, Coimbra e Lisboa – do
qual constou a assinatura de uma carta com propostas de resolução dos problemas
que os estudantes de medicina estão a atravessar, o que se vê repercutido numa
própria inviabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Este
movimento apoiou sobretudo os colegas que prestavam exame, e reivindicou
direitos pelos próximos.
O
objetivo das cartas passou por chegar ao Ministério da saúde e Ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior, pela mão da Associação Nacional de Estudantes de
Medicina (ANEM), já que sendo registadas, existe a obrigatoriedade de resposta.
Em
Coimbra, Trouxemil, houve a oportunidade de entrevistar a Vice-presidente da
Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), Carolina Caminata; a presidente
do Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra (NEM/AAC),
Catarina Dourado; o Presidente do Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade
da beira Interior, Francisco Capinha; e os Mestres em Medicina e prestadores de
Prova Nacional de Acesso à Especialidade, Dra. Cátia Sólis e Dr. Pedro Silva.
Catarina Dourado, quais são as principais críticas tecidas
pelos estudantes, que os moveu a realizar o movimento?
Existe
um problema no panorama nacional que temos enfrentado nos últimos anos e que a
ANEM tem debatido afincadamente. Os estudantes não sabem o número exato de
médicos que exercem medicina, tanto a nível público como privado e setor social;
não sabem as exatas necessidades médicas da população a nível de especialidades,
ou distribuição por região. Neste sentido vem a proposta da ANEM, depois de
várias petições apresentadas em Assembleia da República com soluções para este
problema, mas que têm vindo a ser constantemente ignoradas. Assim, vimos neste esforço
conjunto com os candidatos que realizam a prova e os estudantes que se deslocam
às caves de Coimbra, para que cheguem aos referidos Ministérios e possa ser feita
alguma coisa.
Acrescento
que não temos uma avaliação das necessidades do País que adeque as necessidades
formativas pós-graduadas em termos de especialização médica e distribuição
geográfica pelas regiões mais deficitárias dessas mesmas especialidades, para
que depois também possam ser adequadas ao número de vagas, ao numerus clausus
no curso de Mestrado Integrado em Medicina, para que a longo prazo haja um planeamento
integrado dos recursos em Saúde.
Francisco Capinha, quais as propostas que considera mais
relevantemente mencionadas na carta para solucionar o problema identificado?
A
carta propõe um observatório para o planeamento de recursos humanos em saúde,
que vem em Diário da República, e o objetivo passa por ter uma estrutura que congregue
não só a Tutela, mas também a Ordem dos Médicos, o Conselho de Escolas Médicas
Portuguesas, o próprio Conselhos de Reitores da Universidade Portuguesa, servindo
para aferir quais são as necessidades de recursos humanos em saúde em Portugal,
e que permita estabelecer um planeamento estratégico do SNS a médio e longo
prazo, e não só com medidas rápidas. É necessário que haja uma estrutura que consiga
fazer o planeamento para sabermos onde temos de atuar, integrando e articulando
aquilo que são necessidades do pós-graduados, profissionais de saúde efetivamente
no ativo; e aquilo que são as necessidades de formação, isto é, no pré- graduado,
quantos estudantes precisamos de formar e para que especialidades, o que precisamos dos profissionais de saúde para
termos um sistema eficiente e funcional.
Francisco, enquanto estudante da Universidade da beira
Interior, hoje tiveste que te deslocar a Coimbra porque neste momento nem todas
as cidades sede de escolas médicas têm possibilidade de realização de prova.
Sim,
é o meu caso particular, que venho da Beira Interior, mas esta também é uma
realidade da Universidade do Minho e da Universidade do Algarve, sendo que esta
última nunca teve possibilidade de realização de prova e quer lutar para a ter,
pois é uma grande limitação. No fundo os nossos estudantes estão dispersos pelo
país, com custos acrescidos de deslocação e estadia, pontos muitos negativos
que esperamos alterados num próximo ano. Questão que se pretende ver revertida
para Braga e Covilhã, estendida para o Algarve.
Carolina Caminata, que resposta é espera da parte da
Tutela?
A
ANEM está a conversar com estes Ministérios há vários meses e nunca se passou
da fase de conversação. Nunca se chegou à finalização e a uma proposta que realmente
satisfizesse as necessidades do SNS de momento. O que esperamos é realmente a
concretização da proposta para planeamento dos recursos de saúde em Portugal,
no Diário da República, achamos ser uma necessidade grande deste momento.
Acrescento
que a chave da resolução do problema também passa por juntar estes dois
ministérios, que estão tão envolvidos na formação dos estudantes de Medicina em
Portugal, que comecem a reunir para planear os recursos humanos em Portugal.
Interpelados os prestadores da Prova Nacional de Acesso à
Especialidade, a nova prova correspondeu às expectativas criadas e deu reposta
os flagelos identificados à anterior? O que achou da iniciativa do movimento
das cartas?
Dra. Cátia Sólis: Em relação à Prova Piloto, o exame foi muito mais difícil
e o tempo insuficiente para o seu término, havendo perguntas com a extensão de
uma página ao integrarem análises laboratoriais e muito texto, muito também
desnecessário e inútil para a resposta à questão. Em relação aprova anterior
existe maior justiça, uma vez que pode ser questionada qualquer coisa, dada a
amplitude da matriz e, portanto, não há forma das perguntas se repetirem
constantemente. Há um maior apelo ao raciocínio clínico do que à memória.
Quanto
ao movimento, gostei da ideia porque transpareceu o interesse e preocupação de
todos para com o futuro. A Medicina está a “afundar” e quando entrámos no curso
tal não se previa. O que parecia estável tornou-se uma incógnita. Há cada vez
mais médicos não especializados e isso assusta. Sinceramente quando me perguntam
se vale a pena entrar no Curso de Medicina, aconselho a ponderarem bem essa
escolha.
Dr. Pedro Silva: Esta prova constitui uma maior aproximação àquilo que é a prática
clínica, relativamente à anterior. No entanto, há certos pontos a ajustar: os enunciados
por vezes demasiado longos não incentivam ao raciocínio clínico, mas sim à memorização,
pelo que quase não há tempo nenhum para pensar. Acho positivo a ANEM levar as
nossas reivindicações aos Ministérios, porém, acho que a situação não se vai
alterar, devido às restrições impostas pelo Executivo.
A
cobertura do evento terminou com a convicção de que, por mais incerto que seja
o futuro da formação Médica em Portugal, os estudantes estão unidos numa luta perseverante
e resistente pela qualidade da formação médica e, acima de tudo, pela melhor
qualidade de prestação de serviço aos utentes.
Sara Meirinhos, 5º ano
Efeito Borboleta
Depois de sair da crisálida, a borboleta possui ainda
pequenas e macias asas antes destas assumirem a sua verdadeira forma e
endurecerem. Descobrem depois a leveza do primeiro voo e, nessa inocência, voam
simplesmente…
Em
momento algum nos é dito de que são feitas as coisas ou como são feitas. Vamos
observando e experimentando aquilo que outros observaram e experimentaram e,
dessa forma, vamos decidindo quais os atalhos que queremos percorrer. É um
caminho fácil? Às vezes é! Umas vezes, tem apenas algumas facilidades. Outras,
é “assim-assim” e em casos menos raros do que o que se possa imaginar, é um
“assim- assim” que se prolonga indeterminadamente até não sabermos mais qual o
princípio da questão. É verdade que aos 18 anos (ou por volta disso), temos de
fazer escolhas. Importantes, assim o dizem. Depois, é só depositar todos os
nossos sonhos, esperanças e capacidades nessas escolhas e esperar que o resto
“venha por acréscimo”. Mas nem sempre esse acréscimo acrescenta nem tão pouco
sabemos se nos vamos aperceber disso tardia ou prematuramente. Suponhamos que
faz tudo parte do processo complexo que é a transformação de um jovem
adolescente (des)preocupado num jovem adulto consciencioconformado, passo a
expressão.
Ora,
todo este discurso motivacional e retórico em forma de desabafo serviu para
finalmente iniciarmos o tema central desta pseudocrónica: Concurso de Medicina
para Licenciados. Alguns devem estar a pensar… “Isso existe?”… “É um tipo de
medicina alternativa?”… “É uma maneira mais fácil de entrar em medicina?”… “É
uma realidade disparatada perante a problemática das vagas para a especialidade
nos dias de hoje?”
Sim.
Não. Depende do ponto de vista. Disparate não creio, complicado talvez. Vamos
então conversar.
Ingressar
no Mestrado Integrado em Medicina nem sempre é fácil e as histórias divergem.
Se, por um lado, temos aqueles que sempre quiseram entrar, conseguindo ou não,
temos, numa outra esfera, aqueles que se mantiveram num limbo de escolhas
polivalentes e que acabaram por deixar a hipótese de lado por diferentes
razões. Estes últimos acabam por navegar sob efeito de outros ventos, muitas
vezes sem saberem que acabarão por chegar, na proa, ao mesmo porto e com uma
bagagem a transbordar.
Licenciados,
Mestres, Doutorados (ou mais, porque o céu é o limite), muitos deles tentam a
sua sorte neste concurso que vai passando despercebido a quem de nada disto
percebe.
Na
verdade, é um concurso que faz lembrar o ingresso no ensino médico, por exemplo,
dos EUA. Lá, não é possível iniciar o curso de medicina logo após o ensino
secundário e tem de haver a conclusão prévia de uma licenciatura noutra área
(que tem de incluir as disciplinas pré-requisito para a posterior candidatura).
Anualmente,
todas as Escolas Médicas portuguesas abrem vagas por este concurso para o
Mestrado Integrado em Medicina, e estas podem ser preenchidas até 15% do
numerus clausus previsto pelo concurso regular de acesso, segundo a legislação
atual. Contudo, a tipologia do concurso varia de faculdade para faculdade.
Foquemo-nos apenas no regulamento imposto pela FMUC.
Na
candidatura, há que ter atenção aos procedimentos e prazos do regulamento, para
que nada falhe.
QUEM É ADMITIDO A CONCURSO?
Os
candidatos terão de ser titulares de uma licenciatura ou mestrado integrado
nacional, em áreas afim da Medicina (Biologia, Bioquímica, Ciências da
Nutrição, Ciências do Desporto, Ciências Farmacêuticas, Cursos de Tecnologia da
Saúde, Enfermagem, Engenharia Biomédica, Medicina Dentária, Medicina Veterinária
e Psicologia) e satisfazer o pré-requisito fixado para acesso ao curso no
respetivo ano letivo (este último ponto é exatamente igual ao contingente
normal).
Não
será novidade dizer que a candidatura está sujeita a um emolumento no valor de
100€ (relativamente ao panorama nacional, até é simpático por ser dos menos
dispendiosos) e que os devidos documentos (formulário de candidatura,
comprovativo de pagamento, BI/CC, documentos oficiais comprovativos da
conclusão do ensino secundário e de licenciatura ou mestrado integrado) têm obrigatoriamente
de ser apresentados e as candidaturas que não cumpram qualquer um dos
requisitos são liminarmente indeferidas pelo júri competente.
COMO TUDO SE PROCESSA?
O
concurso é, antes de mais, dividido em duas fases.
Na
1ª fase, são aplicados critérios de seriação que se prendem com três etapas
fundamentais que são, individualmente, cotadas para 20 pontos, num total de 60
pontos: idade (até aos 29 anos, não há penalização e são atribuídos 20 pontos,
começando a ser descontados pontos a partir dessa idade) – e vocês dizem
“Fácil!”, ao passo que eu digo “Olhem que às vezes este critério pode estragar
os planos a muito boa gente!” –, média final do Ensino Secundário ou
equivalente (numa escala de 20, a média arredondada às unidades corresponde à
pontuação respetiva) – “Pois é, para quem pensa que as médias não interessam…
interessam” – e, por último, média da licenciatura ou mestrado integrado –
“Estão a ver como as médias continuam a interessar? Duplamente!”. Perante isto,
feitas as contas de “sumir”, apenas 48 pessoas (os tais 15% das vagas mais 10)
das centenas que costumam concorrer, vão estar do lado certo da matemática e
vão passar à 2ª fase.
Esta
última é talvez a mais desafiante e que deveria existir em todos os concursos
para cursos que implicam relacionamento interpessoal, como é o caso de
medicina: a entrevista. Tem a curta duração de 15 minutos, três atentos jurados
e embala o projeto de um sonho. Na 2ª fase, o máximo de candidatos que podem
ser admitidos não pode ser superior às 38 vagas disponíveis (mas mesmo estas 38
vagas podem não ser todas preenchidas, tudo vai depender dos candidatos a
concurso e do seu desempenho na entrevista).
A
entrevista varia entre candidatos, e procura avaliar o mesmo de uma forma geral
e, simultaneamente, personalizada. A postura, a vontade e garra demonstradas
para frequentar o curso de medicina são importantes, mas também são avaliados
os atributos/valores que o corpo docente júri considera essenciais num futuro
médico. A lista é extensa: empatia, discernimento, perseverança, argumentação
sobre questões atuais, aspirações pessoais/profissionais, entre outros temas
“fora da caixa” (o que talvez seja uma maneira eficaz de alavancar ou enterrar
o candidato, já que a diferença entre quem entra ou não está nos detalhes).
Para
os leitores que possam questionar-se: “Como se conhece alguém em 15 minutos? É
impossível, até porque há muitos fatores externos que podem influenciar!” Tem
razão, caro leitor. Não é uma tarefa fácil (daí apenas cerca de 20 pessoas
terem entrado nos últimos anos), mas acredite que em 15 minutos de pressão, eles vão testar o candidato até
verem onde ele pode ir, esperando que o candidato se teste a si próprio.
A
pressão pode pairar de várias formas: uma conversa informal, um questionário em
que cada jurado desempenha o papel de “bom”, “mau” e “moderador”, uma “reunião”
bem ao estilo tradicional de entrevista de emprego… É impossível saber o que
vai suceder a cada um. Os candidatos devem mostrar ter disponibilidade total
para a demanda exigente que o curso representa, e terem mais “vida” para lá do
estudo é importante. Aptidões/interesses noutras áreas são valorizados, assim
como motivações/opiniões pessoais, atividades extracurriculares socioculturais,
percurso académico e/ou profissional… Acho que já me fiz entender.
Depois,
é só esperar ansiosamente pela lista dos candidatos admitidos e ter fé.
Há
que contextualizar este concurso no cenário atual. “Um disparate”, pensam
muitos, face à realidade da falta de vagas para a especialidade que se tem
verificado. Diria que é uma forma diferente de ingressar em medicina, mas não
que é mais ou menos justa. Tem vantagens e desvantagens, como em tudo na vida,
no entanto, não me cabe fazer juízos de valor acerca da abolição do mesmo.
Estaria a dar a face à hipocrisia.
Mas,
calma, temos pés bem assentes no chão e está claro que os problemas existem e
não nos passam simplesmente ao lado (não a toda a gente), e são preocupantes.
Vamos aos factos:
- Há
uma distribuição anormal de médicos no país, sendo muitos deles atraídos para o
setor privado, saindo assim do Serviço Nacional de Saúde (SNS);
-
SNS está carenciado em médicos especialistas;
-
Redução das vagas para a especialidade;
-
Reitera-se que o numerus clausus de vagas em medicina é excessivo, o que não
contribui favoravelmente para uma eficiente formação médica e põe o futuro dos
jovens estudantes na corda bamba;
-
Recém-formados portugueses que estudaram no estrangeiro, voltam com melhores
médias para tirar especialidade;
-
Caos instalado.
Estão
a ver? Escrevo meia dúzia de premissas e rapidamente quem se esforça por
entender esta trapalhada conclui: é uma questão política. E o panorama não vai
melhorar (nisto, todos devemos concordar). Devido à falta de planificação de
recursos humanos e pela dificuldade em atuar perante os obstáculos.
A
existir, a redução das vagas no contingente normal repercutir-se-á
automaticamente neste concurso. Ultimamente, não têm vindo a ser todas
preenchidas (na FMUC) e isso já pode ser uma forma de restrição.
Pode
acontecer que os licenciados sejam alvo de algumas críticas relativamente aos
alunos do contingente geral, sendo “acusados de ingressarem com menos mérito”.
Ao contrário do que já ouvi, estes licenciados podem ser tão brilhantes como os
seus pares. Terem entrado por esta via não implica terem de ser rotulados como
“pessoas cuja média não foi suficiente”. Essa ideia não deve ser generalizada
como um dogma, porque a verdade é multifacetada. Isso pode ser efetivamente
verdade em alguns casos, mas não noutros e, querendo optar por essa afirmação
enviesada, ficam por analisar outras características tão importantes que não
vêm anexadas às centésimas de uma média (do ensino secundário) final.
O
percurso de vida de cada um, inclusive de um licenciado (ou mais graduado),
como um origami, pode ser moldado sem nunca, porém, lhe serem apagados os
vincos da sua história passada. Por isso… Voltar atrás para seguir em frente?
Porque não? Se já deram o primeiro passo, que é optar por esta via (o que já
demonstra muita capacidade de resiliência), só resta continuar. Vão ficar
espantados com as repercussões que esse sonho poderá ter daí em diante, se o
souberem agarrar.
Sublime, a borboleta vagueia na brisa estival exibindo o brilho
na parte superior das suas asas. Numa elegância, dobram, desdobram e poisam
gentilmente. Saberão elas da sua culpa na tempestade, por terem simplesmente
voado?
Ana Sousa, 2º ano
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