Tudo e Nada ou Terra do Engano

Nada
É difícil ser tudo.
Rosa perlada em solo mudo.
 
Tudo
É fácil ser nada.
Sombra de amor afogada.
 
Voam cinzas,
Vestido de fogo frio,
Vestígios de humanidade sem brio.
 
Existes...
Ou talvez não.
Incerteza numa existência que é em vão.
 
Vazio:
Certeza de nada.
Deixo a porta aberta escancarada.
 
Medo:
Não conhecer tudo.
Dar mão quente a quem ajudo.
 
Serenidade
Na indiferença das palavras
Submissas de suposta igualdade.
 
Liberdade
Falsa desde o primeiro dia
Em que lhe chamaste amizade.
 
Soldado prisioneiro
Numa guerra já perdida
Pelo capitão sem certo paradeiro.
 
Talvez esteja na Terra do Engano...
Onde tudo e nada serve para venda,
Onde tudo e nada serve como pano.
 

Ana Catarina Pastilha, 5° ano

Será da minha perturbação?

Chamo-me Márcio, tenho 19 anos e fui diagnosticado com Perturbação Bipolar. Enquanto espero na fila do pingo doce, escrevo-te sobre mim. Será que me dás ouvidos? Ou melhor… empatia?
Quero falar-te usando o pretérito – tempo onde almejo que os meus problemas fiquem.
Saí sob o comando do mar e dos ventos, enquanto todos os raios de sol escarneciam das lágrimas corajosas perdidas na minha fronte.
Não conseguia ser eu! Fugia-me completamente. Fitar-me, era um martírio. Os olhos eram meus, contudo, a consciência se demarcava de ser minha. Senti a amargura do doce, a frieza do calor e o sorriso da tristeza. Como coexistir tamanhos estados de não poder ser?
A cada mudança, debatia ferozmente com o não querer estar. A cada olhar de consideração, conseguia arranjar necessariamente um estigma que me confortasse como incapaz. A bandeira hasteada clamava por ajuda e desfraldava-se mais do que as suas possibilidades. Honestamente, pensei que quanto mais barulho fizesse, melhor seria notado. Desconhecia se a dita voz era minha ou de outro. Para não mais confusões, pedi silêncio aos dois.
Conheci tantos fármacos, todavia, nenhum foi bálsamo para a minha ferida. Desconhecia tantas pessoas, entretanto, todas queriam maltratar a minha mágoa. Conheci tantas coisas, contudo, nenhuma delas aceitou ser um espelho verdadeiro.
Esquivava-me de ser apresentado aos outros, para que ninguém dissesse em voz-off: “às vezes ele é maluco”. Queria tanto que esse “às vezes”, fosse “nunca”. Mas como?... Se sempre me apontam o dedo e me desprezam a opinião? “Deve estar naqueles dias”, dizem eles.
Em rodopios caio no chão e vejo o mundo a girar. É a mesma sensação quando me indago sobre a culpa: “Será da minha personalidade?” ou “Será da minha perturbação?”
Em cada despedida, em cada “até já”, visita-me um medo fiel, pois não sei se amanhã estarei com a mesma disposição mental que hoje.
Das indumentárias mais ousadas à falta de vontade de asseio; dos risos estridentes ao silêncio perplexo; do menino que quer muito ao menino que nada importa. Do céu ao chão. Da terra ao mar; do amor que eu preciso ao amor que eu preciso.
Ah! No primeiro dia de janeiro enviei uma carta a cinco pessoas: minha mãe, meu pai, minha avó, meu avô, minha irmã. Em cada carta estava plasmado uma única letra: I, Ã, L, O, D. Espero que um dia possam perceber que as únicas letras em falta são: o “S” e o “O” (…Só). Assim completarão a “solidão” que há muito se completou em mim.
Adeus! Deseja-me boas compras…
Rodrigo Alexandre Fortes, 6º Ano