Cartaz: Gonçalo Sabrosa, 3º ano
Número de vagas para ingresso em 2022: 19
Número de vagas para ingresso em 2021: 19
Classificação normalizada do último colocado em 2021: Não fechou
Classificação normalizada do último colocado em 2021: Não fechou
Número de vagas para ingresso em 2020: 19
Classificação normalizada do último colocado em 2020: Não fechou
1) Como é o seu dia-a-dia enquanto interno nesse centro hospitalar?
A carga horária é de 40h semanais – das 8h00 às 20h00 no dia de permanência no Serviço de Urgência (1x/semana, dia fixo, na respetiva especialidade; nos Cuidados de Saúde Primária faz-se SU com a Medicina Interna); nos restantes 4 dias da semana, das 8h30 às 16h30.
Nos Cuidados de Saúde Primários, somos atribuídos a um especialista de Medicina Geral e Familiar e acompanhamos o seu dia-a-dia. Assim, realizam-se consultas de Saúde Materna e Infantil, Planeamento Familiar, consulta de Saúde do Adulto, Consulta Aberta e visitas domiciliárias. Estas consultas foram, na sua totalidade, presenciais mas, também para dar resposta à necessidade de alguns utentes, realizaram-se “consultas/contactos por via digital”. Este ano (e no ano transato) houve ainda acompanhamento dos doentes COVID+ do domicílio. Inicialmente a minha participação foi praticamente observacional (foi a minha primeira rotação e a minha especialista estava acompanhada pela sua interna) mas com o tempo, e mostrando vontade, foi-me possível participar nas consultas, na realização do exame físico e nos rastreios populacionais organizados. No fim do estágio realizei um panfleto e um trabalho de revisão. Atendendo às características desta ilha, e pela polivalência dos seus médicos de família, todo o estágio foi realizado nos Cuidados de Saúde Primários sem existir um momento definido para a Saúde Pública.
Na Cirurgia Geral, também se é atribuído a um especialista e ficamos a pertencer à equipa na qual este se integra (cada equipa tem a sua área de diferenciação, embora todas façam cirurgias “generalistas”). O principal trabalho do IFG é a enfermaria, a ver todos os doentes da sua equipa, com tudo o que isso implica (história clínica, exame físico, diário clínico, notas de entrada e notas de alta). No fim da manhã, discute-se o caso do doente com o respetivo médico assistente (plano, ajustes terapêuticos, diagnósticos diferenciais, MCDTs…). No restante tempo, assiste-se a consultas, pequenas cirurgias e cirurgias no bloco operatório. Existe total abertura à nossa participação no bloco como 2º/3º cirurgião (ajudante), sendo que a equipa convida e motiva a participar (contudo, IFGs que não gostem da área não são “crucificados” e podem ficar a assegurar trabalho de enfermaria). Todas as sextas-feiras, há reunião do serviço onde é expectável que cada um de nós apresente os doentes que viu durante a semana para discussão interpares dos casos. Ainda nessas reuniões, são apresentados diversos trabalhos pelos internos da especialidade e cada um de nós, IFGs, apresenta um Journal Club (ou atualização de Guidelines) relevantes para o serviço.
Na Medicina Interna, a equipa médica está dividida em duas tiras, e dentro de uma delas é-nos atribuído um especialista como nosso tutor. No início da manhã, são atribuídos os doentes que são da nossa responsabilidade na enfermaria (com tudo o que isso implica, já enumerado anteriormente), para que no fim da manhã/ início da tarde se discuta o caso com o nosso tutor. Temos doentes COVID+ internados que ficam ao encargo da Medicina Interna, mas existiu sempre o cuidado da equipa em salvaguardar-nos e não somos nós a ir observar estes casos. É ainda expectável a nossa participação nas Consultas Externas da Especialidade. Cada um dos IFG tem também de apresentar um trabalho de atualização de conhecimentos/revisão ao serviço. Esta é uma rotação com duração de 4 meses e, ao contrário do que muitos hospitais hoje praticam, no Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira (HSEIT) existe a preocupação de garantir uma Formação Geral abrangente e enriquecedora, pelo que ainda é dada a possibilidade de realização de um mês de opcional à nossa escolha.
Na Pediatria (ainda não fiz este estágio pelo que me baseio em relatos de colegas), o trabalho também consiste em enfermaria, consultas externas, neonatologia e berçário. Inicialmente o estágio é mais observacional, mas existe total abertura à realização de atos, como o exame físico do recém-nascido.
Referir ainda a participação em consultas multidisciplinares, nomeadamente a reunião multidisciplinar de patologia oncológica, a reunião multidisciplinar de mama e a reunião multidisciplinar da Unidade de Tratamento Cirúrgico da Obesidade e Doenças Metabólicas.
Em todas as rotações, há um dia por semana de SU, nas respetivas especialidades – tanto se pode ficar nos gabinetes (inicialmente sempre acompanhados/observacional, mas com o tempo, passa a ser mais autónomo embora se discutam todos os doentes) como na Sala de Observações (onde estão os doentes que requerem maior atenção). Os IFGs têm autonomia para pedir MCDTs e prescrição interna (principalmente quando são situações clínicas mais banais e que já foram aprendidas em situações prévias). Contudo, não podem fazer prescrição externa nem dar alta.
2) Faz noites?
No HSEIT, o IFG não faz nem noites nem fim-de-semana. Nos feriados, apenas se trabalha caso seja o dia no serviço de urgência (nessa situação, o vencimento do dia é superior, calculado como horas extras, e ainda se ganha um dia de folga).
3) Tem autonomia para tomar decisões clínicas?
Existe autonomia limitada, isto é, é esperado que existam decisões mais simples que já devemos ser capazes de tomar sozinhos. Porém, altas e prescrição externa é algo que nos é vedado. É expectável que discutamos sempre todos os casos e efetivamente nunca somos “abandonados” - existe sempre um sénior (especialista ou mesmo interno da especialidade) com quem falar. Pode ocorrer que não seja o nosso tutor mas assumem que é verdadeiramente trabalho de equipa, pelo que existirá sempre alguém disponível.
4) Como é a relação médico interno-médico especialista?
A minha experiência é muito positiva. Todos os especialistas (e internos) são muito recetivos à nossa presença e estão empenhados na nossa formação – convidam-nos a observar e realizar procedimentos, têm paciência a dar explicações mesmo às nossas questões mais básicas (e deixam-nos à vontade para questionar) e integram-nos nas discussões dos casos clínicos. O mesmo acontece com especialistas de outras áreas para além daquelas das nossas rotações obrigatórias. A relação com outros profissionais de saúde também é muito satisfatória, sendo que nunca vivi “guerras” de classes profissionais.
5) Em que hospital(ais) e USF(s) podem ser efetuadas as rotações?
O estágio de Cuidados de Saúde Primários é realizado ou no Centro de Saúde de Angra do Heroísmo (onde fiz o meu estágio) ou no Centro de Saúde da Praia da Vitória. Para além do edifício “central”, existem Postos de Saúde distribuídos pelas diferentes freguesias. Assim sendo, como éramos poucos e se chegou a acordo, foi dada a possibilidade de escolha de lugar (sendo que tiveram em atenção aos IFGs que não tinham carro próprio).
As restantes rotações hospitalares realizam-se no Hospital de Santo Espírito da ilha Terceira.
Este ano tivemos um colega da Madeira a quem foi permitido a realização do estágio de MGF e a opcional na sua ilha (contudo, não posso garantir que sempre seja assim, até porque tem de existir acordo mútuo entre a instituição de origem e a que recebe).
6) Há flexibilidade para conjugar o internato de formação geral com outras atividades, por exemplo investigação?
De que tenha conhecimento, não existe nenhum centro de investigação organizado como acontece nos centros hospitalares centrais. Contudo, e embora não tenha conhecimento de que algum colega o esteja a fazer, penso que, se for demonstrada vontade nesse sentido, existirá possibilidade de integração em algum projeto. Para além disso, existe tempo livre que pode ser aproveitado conforme as preferências de cada qual, quer seja a investigar (nem que seja à distância) quer seja para aproveitar e conhecer a Terceira e as ilhas ao redor.
7) Quais são as vantagens e desvantagens de escolher esse centro hospitalar para realizar o internato de formação geral?
Vantagens:
- a ilha e as suas gentes.
- horário laboral – não se trabalha no turno da noite nem ao fim-de-semana; o horário é respeitado.
- facilidade na marcação de férias e folgas.
- acessibilidade e rapidez na resolução de assuntos burocráticos.
- o hospital é novo pelo que tem muito boas condições.
- o ambiente laboral – ambiente acolhedor e descontraído, sem snobismo, com possibilidade de aprender com colegas empenhados e com conhecimentos muito abrangentes.
- ser um Hospital periférico/não universitário – existe vontade em acolher IFGs e nunca senti competição sobre quem consegue fazer o quê, visto que há oportunidades para todos.
- sentimento de proteção, isto é, nunca se é deixado ao “abandono”.
- a chance de realizar estágio opcional, que tanto pode servir como auxílio na nossa escolha de carreira como para aperfeiçoar determinados conhecimentos que consideremos deficitários na nossa formação académica.
Desvantagens:
- Para quem não é residente na ilha, existe pouca oferta de habitação ao redor do hospital (apesar de preços ligeiramente mais baixos que nas grandes cidades), e os transportes públicos são limitados.
- Limitação em participar em congressos em regime presencial, uma vez que implica deslocação externa (embora este ano para grande parte deles tenha existido a possibilidade de assistir online).
- A escolha da especialidade não ocorre na ilha Terceira, pelo que é sempre necessária pelo menos, uma deslocação aérea.
- Não existem todas as especialidades no HSEIT, pelo que pode ser um pouco mais difícil esclarecer questões sobre as mesmas antes da escolha da especialidade.
Pesando os prós e contras, se fosse hoje fazia exatamente a mesma escolha e colocaria o Hospital de Santo Espírito da ilha Terceira em primeira opção.
8) Que conselho daria a um finalista de medicina que está prestes a fazer essa escolha?
O ano de internato de formação geral é um período de travessia da tua vida - já não és aluno, mas também ainda não te sentes 100% médico; saíste de meses de elevada pressão a estudar e depois do ano de formação geral, inicias a formação específica que também exigirá muito de ti. Então, embora considere que deves ter em conta as tuas perspetivas futuras (isto é, prioritizar um hospital que te permita vivenciar a especialidade que ambicionas ou que te prepare para a realização de tarefa) e que este é um ano de muita aprendizagem, não deves menosprezar a qualidade de vida que podes ter nesta fase.
Também, na minha opinião, fazer a formação geral fora dos grandes centros urbanos (onde a maioria de nós fez toda a sua formação académica) é uma experiência muito enriquecedora.
Acima de tudo, não te esqueças que ano de formação geral é aquilo que fazes dele.
Testemunho da Dra. Isabel Maria Vieira da Silva
IFG no Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira, E.P.E. em 2021
Entrevistadora: Dra. Andreia Gi
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