Centro Hospitalar do Baixo Vouga, E.P.E.

Cartaz: Gonçalo Sabrosa, 3º ano


Número de vagas para ingresso em 2022: 44

Número de vagas para ingresso em 2021: 33
Classificação normalizada do último colocado em 2021: 82,381
 
Número de vagas para ingresso em 2020: 44
Classificação normalizada do último colocado em 2020: 80,587
 
1) Como é o seu dia-a-dia enquanto interno nesse centro hospitalar?
No geral, tenho um dia-a-dia descontraído, no sentido em que vou efetuando as minhas tarefas sem pressão. O ambiente é muito bom, pois posso partilhar experiências com colegas do ano de Formação Geral, internos mais velhos e mesmo especialistas que são, regra geral, bastante acessíveis.
Temos 2 bares no hospital, que fazemos questão de frequentar pelo menos de manhã, como rotina, promovendo-se também aqui um ambiente salutar e de convívio. Existe também um refeitório comum.
Relativamente a cada rotação:
Medicina Interna: A hora de entrada é feita entre as 8h/8h30. Começamos por ver as vigilâncias dos doentes que nos são atribuídos, seguida da visita médica e realização dos registos. Posteriormente, é feita a discussão dos casos, sempre em equipa, não recaindo sobre nós a completa responsabilidade de gerir o doente. Assim, somos incentivados, passo a passo, à tomada de pequenas decisões. A hora de saída é variável de acordo com a sobrecarga das equipas. Adicionalmente, é possível vivenciar outras valências da Medicina Interna, nomeadamente a unidade de AVC e hospitalização domiciliária. Dependendo da enfermaria poderá ser necessário realizar pequenos trabalhos/análise de artigos científicos. Realizamos ainda 12 horas de urgência semanal diurna com direito a descanso compensatório se realizado ao fim-de-semana e eventualmente a folga, caso este seja realizado no dia de domingo. O número de fins-de- semana alocados depende do número de IFGs nessa rotação, mas regra geral não ultrapassa 1 a 2 fins-de-semana por mês. No serviço de urgência somos incentivados a gerir doentes, tendo sempre a possibilidade de discutir os casos com especialistas. 
Pediatria: A hora de entrada é feita por volta das 8h30, hora da realização da passagem de turno. Posteriormente, seguimos para as rotações a que estamos alocados. Passamos pelo berçário, consultas (nas quais existe uma oferta considerável), serviço de urgência e internamento. Neste último somos, regra geral, responsáveis pelas entradas e por acompanhar os internos da formação específica (IFEs) na avaliação das crianças. A discussão é realizada sempre em equipa, sendo o nosso grau de autonomia mais limitado relativamente à Medicina Interna. Pelo contrário, no serviço de urgência somos incentivados a avaliar e gerir todo o episódio agudo, sempre com a ajuda de um especialista. Realizamos ainda uma análise crítica de um artigo científico e assistimos a pequenas apresentações sobre temas comuns da prática clínica. O serviço de urgência é maioritariamente em dias de semana, podendo ocasionalmente ser necessário realizar fins de semana de acordo com o número de IFGs na rotação.
Cirurgia: A hora de entrada é feita por volta das 8h00, seguindo-se a passagem da visita e discussão dos casos. Na Cirurgia Geral o nível de autonomia varia consoante as equipas. Numa semana temos também atribuído um dia de bloco (8h-19h) e um dia de urgência (12 horas) sempre a dia de semana. Existe também a possibilidade de passar na cirurgia de ambulatório, onde é possível gozar de mais autonomia na prática cirúrgica.
Medicina Geral e Familiar (MGF): horário altamente variável, dependendo do tutor/unidade. Aveiro dispõe de múltiplas unidades funcionais de diferentes modelos, podendo dar aos colegas com interesse na área uma visão ampla de tudo que é feito na especialidade.

2) Faz noites?
Não. Faço fins-de-semana, esporadicamente.
 
3) Tem autonomia para tomar decisões clínicas?
Diria uma autonomia “qb”, o que é ótimo. Não é bom haver uma autonomia total, na medida em que não temos autonomia do ponto de vista legal. A autonomia vai-se construindo à medida que se evolui no Internato de Formação Geral. Vamos começando a fazer cada vez mais coisas sozinhos, coisas que, no início, seriam impensáveis. Claro que há decisões que nunca somos capazes de tomar, mas faz parte do processo de aprendizagem. Notei claramente a minha capacidade de assumir doentes e geri-los, ou seja, a minha independência, a crescer a olhos vistos. Penso que funciona como em tudo na vida, ou seja, há um bom equilíbrio.
 
4) Como é a relação médico interno-médico-especialista?
Na globalidade, muito boa. Fiquei com uma enorme sensação de gratidão, com a perceção de ter saído deste internato com um conhecimento muito mais amplo e uma preparação prática superior. Há acessibilidade até para conviver com especialistas de outras áreas, que não se enquadram propriamente na dita rotina formativa do ano de Formação Geral e também adquirir competências junto deles.
 
5) Em que hospital(ais) e USF(s) podem ser efetuadas as rotações?
É praticamente tudo efetuado no Hospital Infante Dom Pedro (Aveiro). Em Cirurgia, há 2 semanas que podem ser feitas no Hospital de Águeda, o que é ótimo para aumentar a diversidade de situações clínicas, proximidade com o doente, autonomia e aprendizagem. Já na rotação de Cuidados de Saúde Primários, o estágio vai diferir tendo em conta a USF de colocação, ou seja, há algumas pequenas diferenças entre as USFs, tal como em todo o território nacional.
 
6) Há flexibilidade para conjugar o internato de formação geral com outras atividades, por exemplo investigação?
Sem dúvida! Em termos de investigação, não sou a pessoa mais capacitada para falar sobre isso, pois não constituiu, pelo menos durante este ano, uma das minhas áreas de interesse. Mas é perfeitamente possível conjugar o Internato de Formação Geral com outras atividades, como aliás vão fazendo todos os IFGs, frequentando o ginásio ou outras atividades desportivas, fazendo viagens, jantares, indo ao teatro, museus, praia, entre outras regalias que Aveiro e seus arredores têm para oferecer.
Para quem tem interesse em investigação, a universidade de Aveiro localiza-se junto ao hospital e existem parcerias e protocolos para investigação em determinadas áreas.
 
7) Quais são as vantagens e desvantagens de escolher esse centro hospitalar para realizar o internato de formação geral?
Como estamos a falar de um hospital distrital que não tem todas as valências de um hospital central, ou mesmo de um hospital distrital mais completo, o interno acaba por ter de aprender a lidar com os doentes com as armas que dispõe, aguçando o engenho. Claro que isto pode ser igualmente desvantajoso, pois durante o serviço de urgência, acabamos várias vezes por ter de referenciar o doente para cuidados mais diferenciados, noutros centros hospitalares, como o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Pessoalmente, considero isto vantajoso, na medida em que acabamos por aprender mais e, se assim o desejarmos, podemos sempre acompanhar depois a evolução do doente informaticamente.
O ambiente é, no geral, muito bom, acabando por ser um centro hospitalar bastante familiar, o que deriva de o número de trabalhadores não ser muito grande.
A cidade de Aveiro também é ótima. Apesar de pequena em termos de território, é uma cidade bastante completa e densa, conseguindo englobar vários serviços essenciais e atividades lúdicas diversificadas. Tem também uma componente turística forte e crescente.
De notar que os preços praticados no alojamento estão ao nível do Porto/Coimbra (por exemplo). Os valores por quarto andam à volta dos 200-300 euros e para alugar casa sobe para os 300-350 euros por pessoa (T3/T4). Para além de recorrer aos meios tradicionais (facebook, imobiliárias) uma boa dica é sempre contactar os IFGs do ano anterior, uma vez que é comum algumas casas “passarem” de ano para ano. Para quem tem carro, talvez uma boa opção seja explorar a periferia da cidade. 
Falando em transportes e acessibilidade, o hospital de Aveiro encontra-se numa zona relativamente central e com alojamento nas redondezas o que facilita as deslocações a pé. Sendo uma cidade na sua maioria plana, facilita as deslocações de bicicleta, embora a rede de ciclovias não esteja muito desenvolvida. Relativamente a transportes públicos (autocarro) a oferta é média, sendo mais deficitária na periferia da cidade e no período noturno (ou seja depois da saída de Serviço de Urgência). A estação de comboios fica a cerca de 20-25 minutos a pé do hospital e a ligação de autocarro com o hospital pode ser difícil pelos horários.
Quanto ao trânsito diria que é uma cidade intermédia, com o pico entre 8h30-9h, não sendo, de todo, difícil de circular. O hospital dispõe de um estacionamento interno (praticamente sempre lotado) mas em volta é fácil estacionar quer em estacionamento pago e não pago. Assim sendo, mesmo morando na periferia de Aveiro é possível em 15-20 minutos estar no hospital.
Em suma, esta escolha alia um bom hospital para se realizar o ano de Formação Geral, a uma boa cidade.
 
8) Que conselho daria a um finalista de medicina que está prestes a fazer essa escolha?
Acima de tudo, o interno deve encarar o ano de Formação Geral de forma ampla. Por um lado, deve usufruir de um ano relaxado, calmo, divertido e único; por outro, deve aprender de forma a adquirir o máximo de competências possível, procurar esclarecer o máximo de dúvidas que conseguir, arriscar bastante, tomar decisões, aprender a trabalhar em equipa, colocar o conhecimento teórico em prática e aprender como ser bom médico. Conjugando estes fatores, o interno finaliza este ano com a sensação de dever cumprido e com a consciência tranquila. Conseguiu: tirar o máximo usufruto de um dos melhores anos da sua vida; ter uma rampa de lançamento para o internato de formação específica e, por fim, moldar o ano de Formação Geral de acordo com os seus interesses e com aquilo que lhe será mais útil no futuro.
Acrescentando ao conselho do meu colega Celso, diria que o ano de formação geral é um ano para fazer tudo aquilo que sempre adiaram. Aprender a cozinhar, viajar, ter o hábito de praticar exercício físico, ler, aprender um novo hobby, uma nova língua, o que quer que seja que sempre foi posto de parte por “falta de tempo”. É ano para formar novos e bons hábitos para o resto de uma vida :)
 
Testemunho do Dr. Celso Miguel Furtado Cabral Gomes da Costa
IFG no Centro Hospitalar do Baixo Vouga, E.P.E. em 2020
Atualizado pelo Dr. Pedro Filipe da Silva Mesquita
IFG no Centro Hospitalar do Baixo Vouga, E.P.E. em 2021
Entrevistadora: Dra. Andreia Gi
0 Comentários