Hospital de Cascais

Cartaz: Gonçalo Sabrosa, 3º ano

Número de vagas para ingresso em 2022: 8

Número de vagas para ingresso em 2021: 9
Classificação normalizada do último colocado em 2021: 89,496
 
Número de vagas para ingresso em 2020: 12
Classificação normalizada do último colocado em 2020: 85,077
 
1) Como é o seu dia-a-dia enquanto interno nesse centro hospitalar?
No que concerne ao horário laboral, este depende bastante do estágio em questão (Medicina Interna, Cirurgia, Pediatria e Medicina Geral e Familiar – e, dentro desta, a especificidade da Unidade de Saúde Pública) e interesse e envolvimento do interno na área. Dito isto, regra geral, o dia inicia-se por volta das 8h00/9h00, estendendo-se de forma variada consoante o estágio. Com exceção do estágio de Medicina Geral e Familiar, em que há organização dos profissionais por turnos (turno da manhã: 8h00-14h00 e da tarde: 14h00-20h00), fazendo uma média dos restantes estágios hospitalares, diria que 16h00 é a hora de saída mais comum, com exceções pontuais tanto para mais tarde, como para mais cedo (e, claro, nos dias de "banco"!). Reforço o segundo ponto anteriormente mencionado. De acordo com a minha experiência, muitas vezes permaneci mais tempo no hospital por estar particularmente interessada e envolvida numa atividade em particular. Acho que este ano é justamente o grande (e talvez o único) ano que temos para experienciar o máximo que possamos das diversas especialidades e fica ao nosso critério aproveitá-las ou não, de acordo com as prioridades que delineámos para o corrente ano e, claro, interesse pessoal.
Quanto ao dia-a-dia de um interno de formação geral em Cascais, uma vez mais, varia muito em função da especialidade em que estamos inseridos naquele período. A nível hospitalar, nos dias de enfermaria e de forma mais transversal, o dia inicia-se com um breve "catch-up" dos doentes internados e sua distribuição pelos diversos elementos da equipa. Segue-se a revisão individual de cada doente, em termos de exame objetivo, avaliação de intercorrências, sinais vitais e resultados de exames complementares efetuados, incluindo, idealmente, a comunicação com a equipa de enfermagem responsável. Por fim, de novo em equipa, discutem-se os doentes de forma mais pormenorizada, delineando-se o plano apropriado. Além dos dias de enfermaria, têm-se os dias de "banco" nas 3 especialidades hospitalares, os dias (ou parte de dias) de consultas (em Medicina Interna e Pediatria) e, no caso especial de Pediatria, 2/3 semanas de berçário. Já no estágio de Medicina Geral e Familiar, as valências incluem a Saúde de Adultos, Saúde Infantil, Saúde Materna, Planeamento Familiar e Saúde da Mulher. O dia-a-dia depende da valência em questão, sempre em regime de consulta, bem como da independência que é dada a cada interno ao longo do seu estágio. No meu caso, se inicialmente acompanhava o meu tutor nas consultas, estando eu encarregue essencialmente do exame objetivo, acabei por passar a ser eu própria a conduzir a consulta, discutindo o plano com o meu tutor no final, com um grau de autonomia em crescendo.
 
2) Faz noites?
Os moldes de internato de formação geral mantiveram-se face ao ano anterior. Por conseguinte, neste centro hospitalar não se faz serviço de urgência no horário noturno, apenas no diurno. Este horário diurno varia consoante a especialidade, sendo formalmente, das 8h00-20h00 em Medicina Interna e das 9h00-21h00 em Pediatria. Em ambas as especialidades, o horário efetivo acaba por se estender um pouco além do previsto, uma vez que tem de ser feita a passagem dos doentes de uma equipa para a outra. Não obstante, a escala de urgência em que somos integrados inclui fins-de-semana, a que corresponde um dia sem horário durante a semana prévia, que é respeitado. Em regime de exceção, face a sobrecarga de trabalho e/ou ausência de elementos de equipa, esse dia sem horário poderá ter de ser protelado para a semana seguinte, sem, contudo, ser posto em causa.
 
3) Tem autonomia para tomar decisões clínicas?
Um dos aspetos que considero ser mais positivo em Cascais é o facto de nos ser dada bastante autonomia sem com isso existir qualquer tipo de “abandono”. Isto é, qualquer doente que esteja a nosso cargo é, em qualquer momento, discutido com um assistente. Na enfermaria, na maioria das vezes, o assistente corresponde ao nosso tutor, chefe da nossa tira. Porém, nos dias em que o tutor está ausente, é-nos sempre atribuído, no início do dia, um assistente com quem a discussão e delineamento do plano dos doentes da tira deve ser executado. No Serviço de Urgência, o assistente em questão pode ser o chefe de urgência ou um dos assistentes da equipa de banco, consoante a disponibilidade dos mesmos e podendo ou não ficar definido a priori. Importa referir que, informaticamente, o acesso ao sistema operativo é limitado para os IFGs, não tendo acesso a todos os serviços do hospital, à terapêutica do doente, nem a alguns dos exames complementares de diagnóstico (mais específicos). Desta forma, ainda que o plano seja discutido entre o interno e o especialista, tem de ser através do acesso informático do médico residente que estas prescrições e requisições são feitas.
 
4) Como é a relação médico interno-médico especialista?
O ambiente hospitalar varia de acordo com a especialidade, como em qualquer hospital. De uma forma global, o ambiente é muito bom e a relação com os especialistas também, com bastante proximidade entre todos. É-nos dado completo à vontade para discussão de casos e esclarecimento de dúvidas e, regra geral, fazem-nos sentir em casa e parte integrante da equipa.
 
5) Em que hospital(ais) e USF(s) podem ser efetuadas as rotações?
Todos os estágios hospitalares são feitos no Hospital de Cascais, sem possibilidade de estágios opcionais, não incluídos no programa obrigatório do internato de formação geral. No que concerne às Unidades de Saúde Familiar associadas, no presente ano houve alteração face ao ano anterior, estando disponíveis para estágio: USF São Domingos de Gusmão e USF Alcabideche. Já o estágio de Saúde Pública é realizado na Unidade de Saúde Pública de São João do Estoril.
 
6) Há flexibilidade para conjugar o internato de formação geral com outras atividades, por exemplo investigação?
Sem dúvida que sim. Este é o ano em que a disponibilidade para outras atividades extra-laborais é maior desde há alguns anos e, indubitavelmente, maior do que a dos anos subsequentes. Em comparação com o internato de formação geral noutros centros hospitalares, consigo reconhecer que o Hospital de Cascais se destaca por proporcionar uma carga de trabalho bastante equilibrada, variando obviamente de acordo com o estágio, como acontece em todos os hospitais. Destaco uma vez mais que este ano é também um ano que depende muito do próprio e dos seus interesses pessoais em determinada área, que facilmente leva ao prolongamento de horários e maior envolvimento em áreas de maior apreço, sem que se descure aqueles que são os deveres transversais a qualquer área, claro. Neste centro hospitalar há abertura para que esse envolvimento aconteça, sendo inclusive fomentado pelas equipas respetivas.
 
7) Quais são as vantagens e desvantagens de escolher esse centro hospitalar para realizar o internato de formação geral?
Começando pelas desvantagens, creio que a maior é o acesso ao hospital, dificultado para quem não tenha transporte próprio. Isto porque em termos de transportes públicos, o único disponível é o autocarro, cujos horários e rotas são limitados. Porém, para quem tem transporte próprio, existe um grande parque de estacionamento, totalmente gratuito para os funcionários, de fácil acesso e sempre com lugares disponíveis. Ademais, reconhece-se um espaço de refeições pequeno, ainda mais limitado pelas restrições impostas pela pandemia corrente, o que, em horas de maior afluência, pode levar a maiores tempos de espera e a dispersão de pessoas do mesmo grupo. Por fim, há grande dificuldade na atribuição de cacifos, com limitação na sua aquisição sobretudo pelo sexo feminino. Só tardiamente no ano é que consegui adquirir um cacifo, numa janela de oportunidade excecional e sempre partilhado com outra colega.

Relativamente às vantagens deste hospital, começo por mencionar a ótima localização e instalações. É um hospital novo, moderno, com equipamentos também eles novos e em excelente estado e quartos com condições extraordinárias. O refeitório tem igualmente bastante qualidade e variedade. À parte destas questões mais funcionais, o hospital ganha sobretudo pelo ambiente, pautado de juvenilidade e descontração, num ambiente mais familiar, face também ao menor número de profissionais de saúde existentes, inerente ao menor número de especialidades quando comparado aos grandes centros hospitalares mais centrais. Daqui advém uma maior comunicação e interajuda entre os demais, inclusive inter-especialidades, o que se mostra altamente benéfico e contribui para uma melhor prestação de cuidados de saúde ao doente, objetivo major.
 
8) Que conselho daria a um finalista de medicina que está prestes a fazer essa escolha?
Pegando naquela que foi a minha experiência pessoal e partilhando o meu raciocínio de deliberação, creio que os fatores mais importantes a ter em conta, sem ordem definida, são:
- Experiência hospitalar prévia e feedback de internos de anos anteriores: ao longo do curso fomos contactando com diversos hospitais em variadas especialidades, o que nos levou a ter experiências melhores e piores em cada um deles, que devem ser tidas em consideração aquando da nossa escolha. À parte essa experiência pessoal, construída em fases mais precoces e imaturas do nosso percurso, facilita muito perguntar a quem já passou pelo mesmo processo de decisão e cuja opção levou a uma opinião formada e conhecedora do internato de formação geral no local em causa, reconhecendo prós e contras de elevada fidedignidade, tanto maior quanto mais recente tiver sido a experiência.
- Local de residência e meio de transporte: sem dúvida que, no caso deste hospital, poderá ser um fator limitante, pelos motivos supramencionados na questão 7).
- Objetivos e prioridades para o ano de internato de formação geral: neste ponto, creio que o Hospital de Cascais permite quer um ano mais tranquilo em termos de sobrecarga horária e de trabalho, se essa for uma prioridade do interno; quer um maior envolvimento em área(s) de interesse, desde que integradas no plano obrigatório do internato (ou seja, que correspondam a Cirurgia Geral, Medicina Interna, Pediatria e Medicina Geral e Familiar). Há espaço, portanto, para um espectro alargado de opções individuais em termos de entrega e exigência no desempenho.
- Objetivos e prioridades para o ano de internato de formação específica: uma vez que o Hospital de Cascais é um hospital distrital, o número de especialidades existentes é restrito, mesmo em relação a outros hospitais distritais. Este pode ser um aspeto limitante se os interesses do interno enquanto escolha futura fugirem às 4 especialidades previamente mencionadas. Uma vez que não é dado espaço temporal para estágios fora dos obrigatórios, é necessário ponderar bem esta limitação, ponderando eventualmente realizar o internato num centro que tenha a(s) especialidade(s) de interesse, o que facilita o contacto intra-hospitalar e acesso à(s) mesma(s).
 
Testemunho da Dra. Rita Neves Ferrão Relvas
IFG no Hospital de Cascais em 2021
Entrevistadora: Dra. Andreia Gi

Testemunho de 2020 também disponível em:
https://revistanemia.blogspot.com/2021/04/hospital-de-cascais.html
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