“SOS: Save Our Souls”, o congresso de trauma e
emergência médica organizado pelo Departamento de Investigação e Formação, teve
a sua segunda edição entre os dias 20 e 21 de março de 2021. A Revista ANEMIA
teve oportunidade de marcar presença no evento e registou vários momentos do
mesmo, para levar até ti esta que é uma promissora atividade do NEM/AAC.
Comunicação na Sala de Trauma e Bloco Operatório
O congresso “SOS: Save Our
Souls”, teve início com uma palestra ministrada pelo Professor Doutor Henrique
Alexandrino, sobre comunicação na sala de urgência e bloco operatório.
Durante a apresentação e de
forma bastante interativa com a plateia, salientou-se o que é necessário para
que exista boa comunicação numa equipa multidisciplinar, como a que encontramos
numa sala de emergência e sob cenários de grande pressão e stress.
Foram apresentados vários
casos clínicos, sobre hipotéticos cenários com os quais nos poderemos deparar
numa sala de emergência. Os casos foram discutidos entre médicos que compõe uma
equipa de trauma da sala de emergência, pelo que a plateia teve um vislumbre da
abordagem que uma equipa tem na sala de EM, com a oportunidade de intervir e
participar.
Saliento o elevado interesse
desta interação, que nos possibilitou entender um pouco melhor todo o
raciocínio clínico necessário a um médico no SU, a importância da comunicação
entre a equipa e o papel de um team leader nestes cenários.
Carla Maravilha, 4º ano
Medicina de Catástrofe e Paralelismo com a Atualidade
No desenrolar do congresso
SOS, assistiu-se, por via virtual, a uma palestra inerente à Medicina de
Catástrofe e seu paralelismo com a realidade, a cargo da Dra. Raquel Silva e do
Dr. João Antunes.
Deste momento, destacamos o
depoimento da Doutora Raquel, que esteve em missão na cidade de Gambela,
Etiópia. Referindo o ambiente pobre e volátil a tal local subjacente, concluiu
sentir que o seu trabalho fazia a diferença, o que lhe dá mais alento em
prosseguir tão nobre caminhada, seja pelo incremento no número de pessoal
diferenciado na região, melhoramento das instalações do SU, da formação técnica
ou da telemedicina. Salienta, ainda, ter contribuído para a criação de pontos
de água, de um laboratório e farmácia no SU, de um banco de sangue, de uma
câmara de armazenamento de produtos médicos e reparação dos geradores de
energia. Por fim, recorda o seu contributo para uma resposta rápida à população
quando necessária, através da existência de equipamentos e medicamentos
gratuitos no SU de Gambela.
Luís Bernardo Fernandes, 4º
Ano
Abordagem ao trauma sexual no SU
Este tema foi palestrado por
três profissionais de saúde: a Dr.ª Ana Sofia Coelho, Dr.ª Carla Carreira e
Dr.ª Helena do Côrro. Embora de suma importância, foi evidente o pouco
conhecimento que muitos de nós temos
quanto a ele.
“Silence is not always golden”
- esta citação tocou-me de forma muito peculiar. Não apenas por se aplicar de
forma transversal ao tema, mas por nos poder aparecer qualquer tipo de vítima
no SU, muitas delas com vários traumas sexuais e por vezes sem disposição para
colaborar.
O silêncio das vítimas exige
empatia do profissional de saúde, só assim conseguirá apurar o que nem sempre
se consegue verbalizar. É importante clarificar alguns conceitos:
- Agressão sexual: atividade sexual na qual a
vítima é forçada ou constrangida a participar, onde o agressor a leva a
praticá-la consigo ou outra pessoa; - Manipulação: afetiva, física, material
e/ou abuso de autoridade, de maneira evidente ou não.
De acordo com o Código Penal,
o médico é obrigado a apresentar queixa perante casos de crime público e,
quando o crime não é público, a vítima tem até 6 meses pós-agressão para
apresentar queixa contra o agressor.
O que são urgências
médico-legais?
● Agressões < 72 horas;
● Ejaculação e a vítima não tomou medidas de higiene
pessoal;
● Hemorragia ou dor vaginal/anal;
● Possibilidade de gravidez ou DST;
● Relato de uso excessivo de violência física.
Quando a vítima entra no SU,
deve ser, primeiramente, informada da necessidade de preservar qualquer tipo de
vestígio físico do agressor, mesmo sendo isto tudo aquilo que ela não quererá
fazer. As colheitas só devem ser realizadas nas 72 horas seguintes à agressão e
é fundamental obter consentimento informado da vítima/representante legal para
a sua realização. Mais ainda, é fulcral fotodocumentar o estado físico e
pertences da vítima.
Nos casos trazidos à urgência
por abuso sexual, o médico deverá ser um observador independente e
fundamentalmente imparcial. De seguida, deverá documentar as lesões pormenorizadamente
e recolher o máximo de informação possível quanto à história da agressão.
Ao longo de toda a
apresentação, salientou-se que a ausência de vestígios físicos/biológicos não
significa inexistência de abuso.
Andreia Nossa, Erasmus 20/21
Doente Psiquiátrico em Contexto de Urgência
Como devemos abordar uma
emergência psiquiátrica? Quais os procedimentos a seguir perante um paciente em
distress? Estas e muitas outras questões foram abordadas de forma simples e
explícita nesta palestra, que nos deu oportunidade de conhecer melhor o
trabalho desenvolvido nas urgências de Saúde Mental.
É crucial estabelecer uma
relação empática com o doente, privilegiando a escuta ativa, uma interação
simples e congruente. Gerir o ambiente da urgência é também importante, o que
implica a articulação com uma equipa multidisciplinar e a criação de um
ambiente confortável, tanto para o doente como para os acompanhantes.
No final da palestra,
resolvemos casos clínicos, o que tornou esta experiência mais interativa,
permitindo ainda desconstruir mitos relativamente à depressão e outras
patologias. A frase que mais me marcou foi, sem dúvida, a seguinte: "No
SOS, é importante não só o físico, mas também a alma - o ser vivo no seu
todo."
Joana Mendes, 4º Ano
Dadores de Órgãos em Paragem Circulatória
Portugal ocupa um lugar
cimeiro na colheita de órgãos para transplante. No entanto, ainda tem um longo
caminho pela frente no que toca a dadores em paragem circulatória. Este
processo só começou em 2016, no Hospital de São João, e apenas em janeiro de
2020 chegou ao CHUC.
Para este procedimento é
fulcral a ECMO, uma máquina que recolhe sangue venoso do doente e repõe-lhe
sangue arterial, assegurando, assim, o seu suporte pulmonar e cardiovascular.
No nosso país, os órgãos são de dadores que sofreram paragem
cardiorrespiratória dentro ou fora do hospital, mas sem sucesso na tentativa de
ressuscitação. Esporadicamente, podem ser colhidos de dadores que entraram em
morte cerebral antes de em paragem cardiorrespiratória.
Tanto na transplantação como
nas demais áreas da Medicina, a multidisciplinaridade é essencial. Da mesma
forma, sem uma rotina de treino, de educação e avaliação periódica dos
resultados, nenhum avanço científico é possível. Citando o Dr. Eduardo Sousa:
“Nunca parar, para nunca se hesitar!”
Rita Nunes, 2º Ano
Abordagem ao trauma na grávida
Sabias que 1 em cada 12
grávidas sofrem algum tipo de trauma durante a gravidez? O trauma constitui a
primeira causa de morte não obstétrica na grávida. As principais causas de
trauma na grávida incluem acidentes de viação (46%), agressão física (17%),
queda (25%), suicídio (3%) e queimaduras (2,7%).
Tendo em conta que os
acidentes de viação correspondem a metade dos traumas gravídicos, é importante
relembrar que a utilização do cinto de segurança é obrigatória, prevenindo a
morte fetal em cerca de 80% dos acidentes.
Perante uma grávida vítima de
agressão física, devemos sempre questionar uma possível violência doméstica,
que está comumente associada a estas idas ao SU.
Qual a abordagem médica
perante um trauma da grávida? A prioridade será sempre a estabilização materna
e, somente quando esta estiver garantida, é que se procederá à avaliação do
feto. Para além da abordagem ABCDE, é fulcral a mobilização manual uterina para
a esquerda, de modo a prevenir a compressão venosa e arterial do feto.
Inês Sampaio, 4º ano
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