1001 Especialidades: Manual do Estudante Indeciso #5 – Oftalmologia

O que significa ser médico desta especialidade? Quais são as principais frentes de ação?
Significa atuar na preservação e recuperação da Visão, um sentido fundamental para a experiência que os indivíduos têm de si próprios e do mundo que os rodeia. Principais frentes de ação:
Vertente Clínica = Parte Médica + Parte Cirúrgica
Vertente Científica = Publicação de Artigos, Posters e Vídeos de Cirurgias
Vertente Académica = Lecionação de Aulas de Oftalmologia para alunos da FMUL

Em que momento do seu percurso académico decidiu que tinha interesse em seguir esta especialidade?
Enquanto estudava Oftalmologia no Curso de Medicina. Não só pela atratividade do tema, mas também pelo dinamismo das pessoas com quem me cruzei na cadeira de Oftalmologia.

Quais as principais razões para ter tomado esta escolha? O que mais procurava e entusiasmava nesta decisão? 
Impacto na Qualidade de Vida dos Doentes
Técnicas Envolvidas e Dificuldade das Mesmas
Diferenciação e Especialização (Supra-Especialização até)
A Oftalmologia é uma especialidade médico-cirúrgica, com uma vertente cirúrgica minuciosa (Microcirurgia) e sempre me fascinou poder realizar procedimentos tecnicamente muito difíceis e nos quais pudesse fazer uma grande diferença na qualidade de vida das pessoas. A Oftalmologia oferece-nos isso. Enormes potenciais de recuperação de doentes com uma acção limitada no tempo (cirurgicamente por exemplo).
Por outro lado, o Olho é uma estrutura de enorme complexidade e uma das características que permite uma maior versatilidade na experiência que fazemos do Mundo. Devido a essa complexidade, exige também intervenções muito complexas e com enorme detalhe para que os resultados possam ser bons! Intervenções complexas, fazem com que as curvas de aprendizagem sejam relativamente longas, mas isso também faz sobressair as qualidades e aprendizagens prévias do interno em formação. Para além disso, dentro da própria Oftalmologia, há necessidade de uma dedicação preferencial a uma das várias subespecialidades, uma vez que só assim é possível ser suficientemente capaz de atingir os resultados a que nos propomos.

Quais são os principais locais/serviços onde acontece o seu trabalho diário?
Hospital de Santa Maria – Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte.
A Oftalmologia é uma especialidade altamente diferenciada e exigente em termos técnicos e materiais. Por este motivo, o seu internato compreende apenas a própria especialidade. A experiência de interdisciplinaridade ocorre sobretudo nos pedidos de avaliação que os restantes serviços nos realizam.

Como descreveria o ambiente entre médicos internos/médicos especialistas/ enfermeiros/doentes nos serviços por onde passa?
Muito bom! Recomendo vivamente.

Considera que existe idoneidade na maior parte das valências pelas quais passa? Como é a qualidade de ensino? 
Sim, absolutamente. A qualidade do serviço é exímia e existe um ambiente muito propício à aprendizagem.

Existe, no seu trabalho, a possibilidade de realizar estágios complementares (estrangeiro, formação complementada noutro centro, …)?
Sim, sobretudo no estrangeiro. O meu centro hospitalar tem representação em todas as valências possíveis de observar na Oftalmologia, pelo que a realização de estágios complementares é encorajada sobretudo para realização internacional, no sentido de contactar com realidades metodologicamente diferentes ou com recursos técnicos diferentes, de forma a maximizar o aproveitamento possível de um estágio deste tipo.

Como descreveria um dia de trabalho nesta especialidade? Como caracteriza o nível de esforço e de dedicação a que é sujeito diariamente, na sua profissão?
Muito exigente. A Oftalmologia é como toda uma nova Medicina que estava escondida e da qual só arranhámos a superfície na nossa passagem pelo mestrado integrado em Medicina. Requer estudar (novamente) os básicos da anatomia e fisiologia (mais detalhadamente) e exige um enorme grau de compromisso para aprender não só a vertente prática clínica, mas também os princípios básicos que lhe estão subjacentes.

Considera que esta especialidade é capaz de dar uma boa abertura para a existência de hobbies? E relativamente à vida pessoal/familiar?
Depende da capacidade de gestão de tempo. E depende também do “timeframe” da avaliação.
É uma especialidade exigente e com um internato que implica muita dedicação.
Se soubermos gerir bem o tempo, isso não passa a significar que a nossa vida seja exclusivamente o internato, mas algumas concessões acabarão por ser feitas necessariamente…

Relativamente à carga horária, como considera ser a sua carga de trabalho e como descreve as restantes obrigações (horas de trabalho extra, bancos, …)? Ainda nesta questão, o que varia, ao longo dos anos de internato?
Sou um interno muito recente, ainda não posso avaliar variação ao longo dos anos de internato. A carga horária contratual são 40 horas semanais, 12 das quais cumpridas em Serviço de Urgência (banco).
A carga horária efetiva acaba por ser muito mais, mas sobretudo devido às necessidades adicionais de aprendizagem inerentes ao primeiro ano de internato. Nos anos seguintes, de acordo com o que me é transmitido pelos restantes colegas de internato, essa necessidade de aprendizagem teórica diminui, sendo substituídas essas horas de investimento cognitivo por responsabilidades clínicas e treino prático para com os doentes.

Como interno, como é/foi o seu grau de independência nas técnicas e abordagem para com os doentes?
Ainda não tenho independência na maioria das tarefas, como seria de esperar num interno que tem neste momento 3 meses de internato. Apesar de tudo, tenho tido uma experiência óptima no que concerne à aprendizagem com supervisão, uma vez que me deixam experienciar múltiplas técnicas muito diferenciadas sob supervisão desde muito cedo na minha curva de aprendizagem.

Quais as subespecialidades pelas quais se poderá optar? Existe liberdade total para esta escolha? Como acontece o processo?
As subespecialidades são imensas em Oftalmologia: Córnea, Glaucoma, Retina Médica, Retina Cirúrgica, Oculoplástica, Oncologia, Inflamação Ocular, Cirurgia Implanto-Refractiva, Estrabismo, Neuroftalmologia, Pediátrica.

Como acontecem os momentos de avaliação? Em que período do ano? Qual o grau de dedicação e maiores dificuldades?
Uma avaliação por ano de internato e uma avaliação final de internato. Habitualmente no início do ano (datas variáveis de acordo com calendário do serviço).

Qual diria ser a maior dificuldade que encontra nesta especialidade? 
Equilibrar ensino teórico com aquisição de competências práticas. Há vários procedimentos que têm curvas de aprendizagem muito longas.

Quais os principais fatores positivos na sua especialidade?
Elenquei em cima como fatores para a minha decisão.
Reconhecimento do trabalho pelo doente, tipologia do trabalho, etc. Há muitos pontos que não serão positivos para toda a gente.

Como descreveria a sua especialidade em relação à possibilidade de:
Progressão de Carreira – Diria que a progressão é limitada em todo o SNS, há poucas categorias de carreira e pouquíssimos concursos. Penso que será semelhante em todas as especialidades.
Carreira Investigacional / Inovação Científica – A Oftalmologia é uma área em constante renovação e inovação. As oportunidades de investigação e inovação são imensas e constantes. Pode abordar-se essas oportunidades para inovação pura e dura com perspetivas de desenvolvimento de novos produtos, mas também do ponto de vista da carreira investigacional.
Oportunidades de trabalho sector Público vs. Privado – Continua a existir alguma escassez de especialistas em determinados pontos do país, mas não no país como um todo. Existem aproximadamente 1000 Oftalmologistas em Portugal, o que é um número bastante superior à média Europeia em ratio por nº de habitantes. O mercado privado é atrativo e muito competitivo. Pode ser compensador, mas depende extensivamente das concessões que o profissional aceite fazer.
Existe mercado para trabalhar apenas mais algumas horas neste sector, mas a recompensa não é desproporcional. Trabalhando muitas horas, a recompensa mantém-se proporcional, sendo possível atingir valores remuneratórios absolutos elevados.

Escolhia novamente esta especialidade? Está a corresponder às expectativas que tinha? Quais foram as principais surpresas?
Sem dúvida. Até agora foi uma aposta de sucesso. A minha principal surpresa foi a qualidade que o serviço me demonstrou até agora e ainda a elevada recetividade que encontrei para a Pedagogia apoiada.

Diria que é necessário mais talento/arte ou, por outro lado, estudo/dedicação para se prosseguir esta especialidade?
Diria que é sempre preciso um bom equilíbrio de ambas as vertentes. Sempre que uma delas fique para trás, a outra terá de se esforçar muito mais para compensar!!!

Texto redigido com a ajuda do Dr. Diogo Matos, interno do 1º ano no Hospital de Santa Maria, Lisboa

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