Olá! Sou a Melissa. O cortejo
da minha vida data 16 anos de idade. Neste exato momento, entre os meus
companheiros mais gregários, aproveito o intervalo escolar. Observo-os
detidamente e jogo-me ao leito dos pensamentos. Encanta-me saber que todos à
minha volta têm um jeito respetivo de derrota e vitória, signatários de alguma
trajetória. Admira-me saber que somos únicos dentro de nós e imensos para além
de nós. Deslumbra-me saber que vivemos a confiança de tamanha diferença e
tamanha semelhança. A única coisa que não percebo: Porquê que os homens são tão
assim… condenados a serem homens. Falo da condenação à Masculinidade Tóxica…
para ser mais justa e aguda. Tamanha pretensão em assenhorar-se do mundo e de
todos, mas sem maturidade suficiente para tal. Isso mesmo! Não consigo entender
como os rapazes da minha idade são tão infantis.
Ser um “Homem de verdade” é um
know-how que acaba por redundar em atitudes sobejamente deletérias. Um
comportamento que não está restrito ao gueto do próprio homem, mas que derrama
em seu redor. No bojo do conceito “Homem com H maiúsculo” criam-se
pseudo-absolutos, como a sede de dominação e poder, para preencher um foço
cavado pela deficiência afetiva e pela mentalidade reacionária e sufocante.
Olha o João… passou toda a
manhã a contar aos amigos os detalhes condimentados da suposta noite amorosa
com a sua namorada. Ou melhor, se quiserem corporizar a ideia do quão
transversal é a vigência da masculinidade tóxica, aqui vai uma minuta do “como
ser macho alfa”. Aos 5 anos, Bruno, meu primo, assimilou que “homem não chora”.
Bruno é reiteradamente abordado com a indagação: “quantas namoradinhas tens?”
(colecionáveis?!). Da parte do pai, tem absorvido o entendimento: “ajudo a
cuidar dos filhos quando me apetece”. De certo, quando tiver a primeira
desilusão amorosa, daqui a dez anos, ouvirá do amigo: “Deixa-te disso. Faz-te
homem!”; “Não sejas mole com as mulheres. Não te apegues”. Aos 17,
envolver-se-á numa briga com outro rapaz. Indignado, irá expressar: “Parto-te
as ventas. Vais ver quem é mais homem”. Aos 54 anos, com histórico de cancro de
próstata na família, recusar-se-á a fazer o toque retal: “Meterem-me o dedo?
Nunca!”. Espero visceralmente que este não seja o itinerário da tua vida.
Porém, ser-se “Homem” custa caro em plena interpretação tóxica da ação de
género.
Esse exercício imaginativo
acaba por ser bastante sintomático da primazia do homem diante às taxas de
suicídio, homicídio, vícios, sinistralidades nas estradas, doenças, etc. Ou
seja, vive-se menos e pior. Os homens sofrem em silêncio e imbuídos numa
arrogância. Tudo isso, às custas do proselitismo machista da educação
costumeira.
O sexo exprime ordem de
virilidade, e está atrelado ao imperativo de performance, dependente de uma
ereção irrefreável. Não procura sentir o sexo, procura fazê-lo. A referência
sobre o sexo é a pornografia: mecanizadora da arte de fazer amor e fator que limita
o modelo de erotismo aos genitais.
Comportamentos sectários,
agressivos, rotuladores e manipuladores são catalisados pela desconexão com as
emoções, pois não sabem lidar com os seus próprios sentimentos. O pedido de
ajuda é tido como sinónimo de fragilidade e falta de poder. O transtorno de
ansiedade, a insónia, o vício em pornografia, a ejaculação precoce, são
problemas muito comuns nos homens, mas falta sensibilidade para pedirem ajuda.
Os grupos de amigos, no máximo dos máximos, conseguem operar a simpatia e
esgarçar a empatia. Acabam por ser ciclotímicos nessa carência de referências
saudáveis. Quase tudo em torno deles põe cinética à roda dentada do egoísmo.
Criados para serem cuidados e não para cuidar; criados para proteger e não para
cuidar. Obrigados a serem expansivos, conquistadores e implacáveis. Sobra tempo
para ser humano? Frágil? Sofredor?
Não livres da sombra
individual e coletiva. Enfim, Homens que se tardam a humanizar.
Se não chora, devia chorar.
Vou prá minha aula…
Rodrigo Alexandre Fortes, 6º
Ano
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