Chamo-me
Márcio, tenho 19 anos e fui diagnosticado com Perturbação Bipolar. Enquanto
espero na fila do pingo doce, escrevo-te sobre mim. Será que me dás ouvidos? Ou
melhor… empatia?
Quero
falar-te usando o pretérito – tempo onde almejo que os meus problemas fiquem.
Saí
sob o comando do mar e dos ventos, enquanto todos os raios de sol escarneciam
das lágrimas corajosas perdidas na minha fronte.
Não
conseguia ser eu! Fugia-me completamente. Fitar-me, era um martírio. Os olhos
eram meus, contudo, a consciência se demarcava de ser minha. Senti a amargura
do doce, a frieza do calor e o sorriso da tristeza. Como coexistir tamanhos
estados de não poder ser?
A
cada mudança, debatia ferozmente com o não querer estar. A cada olhar de
consideração, conseguia arranjar necessariamente um estigma que me confortasse
como incapaz. A bandeira hasteada clamava por ajuda e desfraldava-se mais do
que as suas possibilidades. Honestamente, pensei que quanto mais barulho
fizesse, melhor seria notado. Desconhecia se a dita voz era minha ou de outro.
Para não mais confusões, pedi silêncio aos dois.
Conheci
tantos fármacos, todavia, nenhum foi bálsamo para a minha ferida. Desconhecia
tantas pessoas, entretanto, todas queriam maltratar a minha mágoa. Conheci
tantas coisas, contudo, nenhuma delas aceitou ser um espelho verdadeiro.
Esquivava-me
de ser apresentado aos outros, para que ninguém dissesse em voz-off: “às vezes
ele é maluco”. Queria tanto que esse “às vezes”, fosse “nunca”. Mas como?... Se
sempre me apontam o dedo e me desprezam a opinião? “Deve estar naqueles dias”,
dizem eles.
Em
rodopios caio no chão e vejo o mundo a girar. É a mesma sensação quando me
indago sobre a culpa: “Será da minha personalidade?” ou “Será da minha
perturbação?”
Em
cada despedida, em cada “até já”, visita-me um medo fiel, pois não sei se
amanhã estarei com a mesma disposição mental que hoje.
Das
indumentárias mais ousadas à falta de vontade de asseio; dos risos estridentes
ao silêncio perplexo; do menino que quer muito ao menino que nada importa. Do
céu ao chão. Da terra ao mar; do amor que eu preciso ao amor que eu preciso.
Ah!
No primeiro dia de janeiro enviei uma carta a cinco pessoas: minha mãe, meu
pai, minha avó, meu avô, minha irmã. Em cada carta estava plasmado uma única
letra: I, Ã, L, O, D. Espero que um dia possam perceber que as únicas letras em
falta são: o “S” e o “O” (…Só). Assim completarão a “solidão” que há muito se
completou em mim.
Adeus!
Deseja-me boas compras…
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