Cardiologia
é uma especialidade com a qual muito me identifico, com a sua componente
clínica, de intervenção (seja tecnicamente ou em saúde pública), educação e
investigação, acompanhado por uma vontade de querer mais, mas com qualidade.
Em que momento do seu
percurso académico decidiu que tinha interesse em seguir esta especialidade?
A
primeira vez que considerei realmente a especialidade de Cardiologia foi na
aula de apresentação da cadeira de Cardiologia pelo Professor Lino Gonçalves.
No seu discurso, o Professor apresentou a cadeira/especialidade como
desafiante, inovadora, mas transversal a uma grande população de doentes. Achei
mesmo inspirador!
Quais as principais
razões para ter tomado esta escolha? O que mais procurava e entusiasmava nesta
decisão?
Acho
que além de considerar extremamente desafiante, é uma especialidade com imensas
áreas de intervenção: cardiologia de intervenção, imagiologia, saúde pública,
clínica e investigacional.
Quais são os principais
locais/serviços onde acontece o seu trabalho diário?
Como
interno de especialidade, a minha rotina diária envolve o internamento de
doentes. No entanto, ao longo dos diferentes estágios, vamos passando no local
de realização de ecocardiografia, sala de hemodinâmica, sala de pacemaker, etc.
Como descreveria o
ambiente entre médicos internos/médicos especialistas/enfermeiros/doentes nos
serviços por onde passa? Como é a entreajuda entre os médicos mais e menos
experientes?
Como
em todos os locais existem colegas de trabalho com mais ou menos
disponibilidade para ajudar.
Considera que existe
idoneidade na maior parte das valências pelas quais passa? Como é a qualidade
de ensino?
Sim.
Muito boa! Há especialistas com muita experiência em todas as áreas do
internato.
Existe, no seu
trabalho, a possibilidade de realizar estágios complementares (estrangeiro, formação
complementada noutro centro, …)?
Sim.
Todos os internos têm oportunidade de fazer o estágio no estrangeiro,
organizado pelo Prof. Lino.
Considera que esta
especialidade é capaz de dar uma boa abertura para a existência de hobbies? E
relativamente à vida pessoal/familiar?
Sem
dúvida! Contudo, é preciso uma boa gestão de tempo. Trabalhar quando é para
trabalhar e divertir-me quando é altura para isso. Dito isto, por vezes pode
ser mais fácil falar do que realmente colocar isto em prática, mas é algo que
se vai ganhando prática.
Relativamente à carga
horária, como considera ser a sua carga de trabalho e como descreve as
restantes obrigações (horas de trabalho extra, bancos, …)? Ainda nesta questão,
o que varia, ao longo dos anos de internato?
Em
Coimbra, existe uma boa política que protege os internos: não fazemos noites
até ao 5º ano, temos urgências extras que não eram pagas até este ano, mas vai
ser alterado ainda este ano. A grande alteração é quando se passa para o 5º ano
(último ano) e somos considerados já como especialistas. A meu ver existe uma
gradual passagem de responsabilidade.
Como interno, como é o
seu grau de independência nas técnicas e abordagem para com os doentes?
Ainda
me encontro no início do internato para responder pormenorizadamente a esta
pergunta.
Como acontecem os
momentos de avaliação? Em que período do ano? Qual o grau de dedicação e
maiores dificuldades?
Acontecem
anualmente. Envolve:
● Avaliação curricular
● Realização de colheita de
história clínica (2-3 vezes ao longo do internato)
● Avaliação 360 graus (comissão
que envolve com o Diretor de Serviço, todos os tutores e o interno mais
graduado) onde se discute a nossa performance clínica e investigacional, além
da relação interpessoal com os nossos colegas e doentes.
Qual diria ser a maior
dificuldade que encontra nesta especialidade?
“Curriculite”,
constante atualização do conhecimento e alta exigência na publicação de
artigos.
Quais os principais
fatores positivos na sua especialidade?
Especialidade
com grande componente clínica, interventiva e investigacional. Imensas subespecialidades
com grande previsão de crescimento. Disponibilidade de trabalhar no setor
público e privado.
Como descreveria a sua
especialidade em relação à possibilidade de:
Progressão
de carreira – Atualmente, é muito difícil
ficar nos grandes centros hospitalares que formam os novos especialistas
de Cardiologia.
Enveredar
pela carreira investigacional – Há
sempre a opção de realizar investigação clínica. Contudo, algo mais
translacional ou básico é necessário o contacto com centros de investigação laboratorial.
Constante
inovação científica – Tem havido uma
constante inovação na parte da Cardiologia de Intervenção e Imagiologia
Cardíaca.
Oportunidades
de trabalho tanto no setor privado como público – Durante o internato não há muitas oportunidades de
trabalhar no sector privado, mas após terminar a especialidade, existem imensas
oportunidades.
Escolhia novamente esta
especialidade? Está a corresponder às expectativas que tinha? Quais foram as
principais surpresas?
Sem
dúvida, adoro o contacto com pessoas tão desafiantes e que querem dar o seu
melhor pelo doente, fazer a diferença.
Diria que é necessário
mais talento/arte ou, por outro lado, estudo/dedicação para se prosseguir esta
especialidade?
Sem
dúvida é necessário muito estudo e dedicação para esta especialidade. Estudar
para prestar excelentes cuidados ao doente em todas as fases da patologia:
desde a fase aguda no Serviço de Urgência à reabilitação e otimização da
terapêutica crónica e modificadora de prognóstica. Dedicação para se manter
atualizado dos mais recentes ensaios clínicos, ao mesmo tempo que se realiza a
própria investigação.
Texto redigido com a ajuda do Dr. Gonçalo Costa, Interno de 1º ano da Especialidade de Cardiologia no CHUC
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