1001 Especialidades: Manual do Estudante Indeciso #8 – Cardiologia

O que significa ser médico desta especialidade? Quais são as principais frentes de ação?
Cardiologia é uma especialidade com a qual muito me identifico, com a sua componente clínica, de intervenção (seja tecnicamente ou em saúde pública), educação e investigação, acompanhado por uma vontade de querer mais, mas com qualidade.

Em que momento do seu percurso académico decidiu que tinha interesse em seguir esta especialidade?
A primeira vez que considerei realmente a especialidade de Cardiologia foi na aula de apresentação da cadeira de Cardiologia pelo Professor Lino Gonçalves. No seu discurso, o Professor apresentou a cadeira/especialidade como desafiante, inovadora, mas transversal a uma grande população de doentes. Achei mesmo inspirador!

Quais as principais razões para ter tomado esta escolha? O que mais procurava e entusiasmava nesta decisão?
Acho que além de considerar extremamente desafiante, é uma especialidade com imensas áreas de intervenção: cardiologia de intervenção, imagiologia, saúde pública, clínica e investigacional.

Quais são os principais locais/serviços onde acontece o seu trabalho diário?
Como interno de especialidade, a minha rotina diária envolve o internamento de doentes. No entanto, ao longo dos diferentes estágios, vamos passando no local de realização de ecocardiografia, sala de hemodinâmica, sala de pacemaker, etc.

Como descreveria o ambiente entre médicos internos/médicos especialistas/enfermeiros/doentes nos serviços por onde passa? Como é a entreajuda entre os médicos mais e menos experientes? 
Como em todos os locais existem colegas de trabalho com mais ou menos disponibilidade para ajudar.

Considera que existe idoneidade na maior parte das valências pelas quais passa? Como é a qualidade de ensino?
Sim. Muito boa! Há especialistas com muita experiência em todas as áreas do internato.

Existe, no seu trabalho, a possibilidade de realizar estágios complementares (estrangeiro, formação complementada noutro centro, …)?
Sim. Todos os internos têm oportunidade de fazer o estágio no estrangeiro, organizado pelo Prof. Lino.

Considera que esta especialidade é capaz de dar uma boa abertura para a existência de hobbies? E relativamente à vida pessoal/familiar?
Sem dúvida! Contudo, é preciso uma boa gestão de tempo. Trabalhar quando é para trabalhar e divertir-me quando é altura para isso. Dito isto, por vezes pode ser mais fácil falar do que realmente colocar isto em prática, mas é algo que se vai ganhando prática.

Relativamente à carga horária, como considera ser a sua carga de trabalho e como descreve as restantes obrigações (horas de trabalho extra, bancos, …)? Ainda nesta questão, o que varia, ao longo dos anos de internato?
Em Coimbra, existe uma boa política que protege os internos: não fazemos noites até ao 5º ano, temos urgências extras que não eram pagas até este ano, mas vai ser alterado ainda este ano. A grande alteração é quando se passa para o 5º ano (último ano) e somos considerados já como especialistas. A meu ver existe uma gradual passagem de responsabilidade.

Como interno, como é o seu grau de independência nas técnicas e abordagem para com os doentes?
Ainda me encontro no início do internato para responder pormenorizadamente a esta pergunta.

Como acontecem os momentos de avaliação? Em que período do ano? Qual o grau de dedicação e maiores dificuldades?
Acontecem anualmente. Envolve:
● Avaliação curricular
● Realização de colheita de história clínica (2-3 vezes ao longo do internato)
● Avaliação 360 graus (comissão que envolve com o Diretor de Serviço, todos os tutores e o interno mais graduado) onde se discute a nossa performance clínica e investigacional, além da relação interpessoal com os nossos colegas e doentes.

Qual diria ser a maior dificuldade que encontra nesta especialidade?
“Curriculite”, constante atualização do conhecimento e alta exigência na publicação de artigos.

Quais os principais fatores positivos na sua especialidade?
Especialidade com grande componente clínica, interventiva e investigacional. Imensas subespecialidades com grande previsão de crescimento. Disponibilidade de trabalhar no setor público e privado.

Como descreveria a sua especialidade em relação à possibilidade de:
Progressão de carreira – Atualmente, é muito difícil ficar nos grandes centros hospitalares que formam os novos especialistas de Cardiologia.
Enveredar pela carreira investigacional – Há sempre a opção de realizar investigação clínica. Contudo, algo mais translacional ou básico é necessário o contacto com centros de investigação laboratorial.
Constante inovação científica – Tem havido uma constante inovação na parte da Cardiologia de Intervenção e Imagiologia Cardíaca.
Oportunidades de trabalho tanto no setor privado como público – Durante o internato não há muitas oportunidades de trabalhar no sector privado, mas após terminar a especialidade, existem imensas oportunidades.

Escolhia novamente esta especialidade? Está a corresponder às expectativas que tinha? Quais foram as principais surpresas?
Sem dúvida, adoro o contacto com pessoas tão desafiantes e que querem dar o seu melhor pelo doente, fazer a diferença.

Diria que é necessário mais talento/arte ou, por outro lado, estudo/dedicação para se prosseguir esta especialidade?
Sem dúvida é necessário muito estudo e dedicação para esta especialidade. Estudar para prestar excelentes cuidados ao doente em todas as fases da patologia: desde a fase aguda no Serviço de Urgência à reabilitação e otimização da terapêutica crónica e modificadora de prognóstica. Dedicação para se manter atualizado dos mais recentes ensaios clínicos, ao mesmo tempo que se realiza a própria investigação.

Texto redigido com a ajuda do Dr. Gonçalo Costa, Interno de 1º ano da Especialidade de Cardiologia no CHUC
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