O que significa ser
médico desta especialidade? Quais são as principais frentes de ação?
Esta
é uma especialidade que aborda principalmente patologias oncológicas e doenças
crónicas, permitindo um contacto mais próximo e duradouro com os doentes. Mais
ainda, está em constante evolução científica.
Em que momento do seu
percurso académico decidiu que tinha interesse em seguir esta especialidade?
Sempre
foi uma temática que me interessou. Mas foi apenas no ano comum, quando tive
oportunidade de ter um contacto mais próximo e prolongado com ela, que me
apercebi que não só as patologias abordadas como também a sua prática clínica me
entusiasmavam.
Quais as principais
razões para ter tomado esta escolha? O que mais procurava e entusiasmava nesta
decisão?
O
que me fez escolher esta especialidade foi o facto de permitir o acompanhamento
prolongado dos doentes, com seguimentos que por vezes duram 5 a 10 anos,
permitindo-nos ter um contacto próximo com eles. Para além disto, envolve patologias
oncológicas, o que faz com que o impacto do nosso trabalho na vida dos doentes
seja enorme, podendo até mesmo determinar o prolongamento das suas vidas.
Quais são os principais
locais/serviços onde acontece o seu trabalho diário?
Dependendo
do hospital, a maioria do trabalho é realizado no internamento, hospital de dia
e consulta.
Como descreveria o
ambiente entre médicos internos/médicos especialistas/ enfermeiros/doentes nos
serviços por onde passa? Como é a entreajuda entre os médicos mais e menos
experientes?
Tendo
em conta a especificidade do trabalho realizado, muitas vezes os enfermeiros
são especializados na área, o que permite uma colaboração mais estreita com
eles. Em geral, nos serviços que conheço, há um ambiente de ensino e entreajuda
tanto com especialistas como internos.
Considera que existe
idoneidade na maior parte das valências pelas quais passa? Como é a qualidade
de ensino?
Apesar
de Portugal não ser um centro de referência (comparativamente com outros
países), temos acesso a todo o tipo de tratamentos e ensaios clínicos, felizmente,
o que nos permite ter contacto com todo o tipo de valências da especialidade.
Existe, no seu
trabalho, a possibilidade de realizar estágios complementares (estrangeiro,
formação complementada noutro centro, …)?
Sim
e, em geral, são incentivados. Principalmente nas áreas em que temos menores
números, como o transplante e pediatria.
Como descreveria um dia
de trabalho nesta especialidade? Como caracteriza o nível de esforço e de
dedicação a que é sujeito diariamente, na sua profissão?
A
nível do internamento, acaba por ser como qualquer outra especialidade médica.
Contudo, há uma necessidade de estudo contínuo, pois apesar de existirem muitos
protocolos de tratamento, todos os doentes exigem uma abordagem específica. Ao
nível dos números, hospital de dia e consulta, é possível fazer uma boa gestão
de tempo e não ter uma carga de trabalho exagerada. Porém, devido ao tipo de patologias,
por vezes 20 minutos de consulta não é o ideal.
Considera que esta
especialidade é capaz de dar uma boa abertura para a existência de hobbies? E
relativamente à vida pessoal/familiar?
Sim,
com uma boa gestão de tempo, não haverá grande problema em conciliar com outras
atividades. Durante o internato poderá sempre ser mais difícil, tendo em conta
que existirá sempre muito estudo e trabalhos a realizar, mas, mesmo assim, será
sempre possível.
Relativamente à carga
horária, como considera ser a sua carga de trabalho e como descreve as
restantes obrigações (horas de trabalho extra, bancos, …)?
Normalmente,
a carga horaria cinge-se às 40 horas semanais, podendo alongar-se um pouco. Em
termos de urgências, em alguns hospitais fazem-se 24h (como especialista) e
noutros apenas 12h, mas nunca se costuma ultrapassar o estipulado em horário.
Com o avançar do internado poderão existir sempre mais responsabilidades, o que
poderá incrementar mais algumas horas de trabalho.
Como interno, como
é/foi o seu grau de independência nas técnicas e abordagem para com os doentes?
Estando
ainda no primeiro ano, tive a oportunidade de fazer a abordagem ao doente e
algumas técnicas, ficando a parte do tratamento e de estudos mais específicos a
cargo do especialista.
Quais as
subespecialidades pelas quais se poderá optar? Existe liberdade total para esta
escolha? Como acontece o processo?
Conforme
a necessidade do serviço onde estão colocados, poderão ter de se dedicar mais a
uma patologia (mieloma múltiplo, doenças linfoproliferativas, coagulação).
Contudo, isto vai variando com o tempo e acaba sempre por haver oportunidade
para nos dedicarmos mais a um assunto ou outro.
Como acontecem os
momentos de avaliação? Em que período do ano? Qual o grau de dedicação e
maiores dificuldades?
Os
momentos de avaliação são feitos no final de cada ano. Não tendo feito ainda
nenhuma avaliação, não sei responder ao resto da questão.
Qual diria ser a maior
dificuldade que encontra nesta especialidade?
A
constante evolução dos tratamentos e a dificuldade em consegui-los atempadamente,
em algumas circunstâncias.
Quais os principais
fatores positivos na sua especialidade?
A
melhoria permanente dos tratamentos e o impacto que tem na vida dos doentes,
tratando-se muitas vezes de situações de vida ou morte.
Como descreveria a sua
especialidade em relação à possibilidade de:
Enveredar
pela carreira investigacional – É
uma especialidade que muito prolifera no que toca a
investigação e inovação científica, sendo possível seguir uma carreira na investigação, em
Portugal ou noutros países.
Oportunidades
de trabalho tanto no setor privado como pública – Geralmente, a carreira evolui apenas a nível do setor
público, uma vez que poucas são as instituições privadas com envergadura para
ter um serviço de hematologia. Há, no entanto, alguma atividade possível de ser
feita em sector privado, sobretudo consultas.
Escolhia novamente esta
especialidade? Está a corresponder às expectativas que tinha? Quais foram as
principais surpresas?
Continuaria
a ser a minha escolha e está a corresponder às minhas expectativas. Conforme
uma pessoa se vai inteirando dos assuntos e se vai envolvendo mais com os
doentes, maior é o gosto e vontade de aprender.
Diria que é necessário
mais talento/arte ou, por outro lado, estudo/dedicação para se prosseguir esta
especialidade?
Sem
dúvida que é uma especialidade que exige muito estudo e atualização constante.
Porém, penso que as capacidades humanas são as mais importantes para lidar com
os doentes afetados por doenças hemato-oncológicas.
Texto
redigido com a ajuda da Dra. Mariana Trigo Miranda, Interna de Hematologia Clínica
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