18 de setembro de 2020:
Foi
nesta madrugada - sim, porque reuniões nunca terminam em horário nobre – que descobri
a Pilar. Estava há uma hora inquieta (não vou mentir) por um momento oportuno
para abandonar, pela primeira vez, uma reunião antes da mesma terminar. Meia
envolvida pela desculpa que o sexto ano começa a pesar, decidi esperar para
ouvir o que a nossa Sara tinha para dizer e – sorte a minha! – conheci a Pilar.
“Existe uma autora que nos enviou um livro sobre como lidar com o ano da PNA1”.
O meu ano, portanto. Escusado será dizer que não foi desta que saí antes do
final da reunião e, muito menos, que foi desta que a cama me recebeu para um
número considerável de horas de sono.
Acredito
que conhecer a Pilar pelos seus textos é uma boa forma de o fazer. Acredito na
sua transparência e na qualidade da sua escrita. Não demorei muito a
identificar-me com aquilo que ela escreve, tanto no seu blogue The Nutsbook,
como no livro, assim como não demorei muito a agarrar no telemóvel para o
encomendar de uma livraria.
A
Pilar escreve, neste livro, sobre saúde mental, sobre histórias hilariantes
passadas entre viagens de comboio e madrugadas em tentativas de posição de
lótus. Escreve sobre ansiedade e tudo aquilo que um estudante de Medicina
poderá ter de enfrentar antes de ingressar para a sua formação especializada.
150 perguntas. 1 minuto e 36 segundos para cada uma delas. Uma maratona onde
muitos de nós ficam (infelizmente) sem acesso a uma vaga.
Mais
do que isso, a Pilar abre o seu coração e começa por dissecar tudo aquilo que
faz parte do seu batimento cardíaco. Não fosse Cardio o primeiro capítulo.
“Ou
paras ou param-te”: Conta-nos como é viver (e sobreviver) no meio das
infindáveis horas de estudo para um só exame que, assim meio a brincar, pode
definir o nosso futuro. Que se lixem os cinco anos que passamos a tentar obter
uma média razoável nas inúmeras cadeiras que ainda hoje não sabemos para que
serviram. Não é a brincar. É – apenas – aquilo que a língua portuguesa chama de
figuras de estilos.
Ironias
à parte, conta-nos (sem medos!) como foi lidar com os seus conflitos internos. Creio
que todos passamos por isto, mas poucos de nós tem coragem de o admitir. É como
se diz na mesa do café, “Em casa de ferreiro, espeto de pau”. Mas, encarar
fantasmas interiores é importante e a Pilar dá-nos uma curta e grossa noção de
qual é o caminho para os enfrentar por muito descrentes que tenhamos sido até
então: “Mindfulness, meditação, ficar-ali-a-pensar-em-nada”.
Uma
centena de páginas onde são abordados muitos assuntos. A Pilar mostra-nos, sem
se enrolar, que nenhuma família é perfeita e que as pausas de estudo não são
sempre aquilo que queríamos que fossem.
25 de setembro de 2020:
Corri até à livraria. O
livro tinha chegado. Voltei para casa. Agarrei na caneta para sublinhar aquilo
que mais gosto, como faço sempre que leio um livro. Dei por mim a sublinhar páginas
inteiras, capítulos de uma ponta à outra. A Pilar sabe como nos prender a uma
leitura. Em menos tempo do que aquele que previa, cheguei ao último. “Calma lá,
não quero que isto acabe”. Pensei. É assim que sei quando vale a pena continuar
desenfreadamente a devorar as restantes páginas. Num misto e numa dualidade de
sentimentos que sempre me caracterizou, continuei a ler. É impossível parar
porque quando damos conta já estamos demasiado envolvidos e apaixonados por
aquelas páginas. Continuei e duas horas depois desde que havia começado,
pronto. Pronto nada! Sei que o vou reler vezes sem conta porque sempre fui pessoa
de voltar aos lugares, às pessoas e aos livros onde fui feliz.
“Estás
a fazer-te à pista e daqui a uns meses levantas voo.” Confio em cada palavra deste
livro porque me identifiquei com muito daquilo que ele transmite: “Sangue, Suor
e Sangria.”
Estas
páginas são um lugar seguro onde transborda amor.
A
Pilar é, verdadeiramente, um grande pilar: de como sobreviver a mais uma
loucura no meio de tantas as que são ser estudante de Medicina; de como encarar
a prova e aceitar que não vamos estar sempre no nosso melhor; de como confiar
no Universo e que, no final, pode acabar por dar certo.
Enquanto
aluna do sexto ano e especialmente apaixonada por cada conjugação de palavras
desta magnífica história, deixem-me que vos diga, sem mais spoilers,
apenas com aquele que a Pilar faz questão de mencionar desde início: este livro
não faz parte da bibliografia recomendada, mas, garanto-vos, é um bom ponto de
partida para levantar voo.
O
Mundo precisa de mais médicos e escritores como a Pilar: alguém que sabe o
lugar anatómico do coração e que o coloca acima de qualquer medicina nas horas
vagas.
Obrigada,
encheste-me o peito de ar.
Francisca Rocha, 6º ano
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1PNA – Prova Nacional de Acesso (o exame que os alunos de
Medicina realizam no final do Mestrado para obterem classificação que lhes
permita aceder à formação especializada).
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