Andamos
pelas ruas, pelos passeios, dentro de carros, olhamos pelas janelas, cruzamo-nos
com eles, mas não os vemos. Nunca os vemos. Nunca sabemos. Se olhamos, não
notamos. Talvez não nos interessem, talvez nos sejam invisíveis.
São
eles, são os heróis que nos guiam, que nos salvam, que nos inspiram. Inspiram-nos
a ser o nosso melhor. Ensinam-nos a inspirar, a mostrar que o podemos ser, que
podemos fazer melhor, que podemos ser os nossos próprios heróis.
Um
herói não tem de ser aquele homem gigante de capa ao vento, com collants demasiado
apertados e roupa interior vestida por cima da restante. Heróis! Uma palavra
tão estranha para os nossos ouvidos, mas tão familiar. Eles existem, andam por
aí. Andam por aí, mas não os vemos. Não nos interessam.
Temos
os olhos virados para nós mesmos, alheios de tudo o que não o nosso umbigo. Não
temos noção do que nos rodeia, dos heróis que temos à nossa volta. Heróis como
aquela mãe que nos acorda, nos faz o pequeno-almoço e nos leva à escola, mesmo
tendo aquela dor de cabeça que parece nunca passar. Heróis como um pai que
nunca para em casa, que se mata a trabalhar para pôr comida na mesa e,
especialmente, para pagar aquelas sapatilhas fixes que todos os famosos usam
hoje em dia e que todos os filhos querem.
Estes
são os heróis. Heróis que não vemos, que nos seguem e que nós seguimos. Estão
sempre lá, mesmo passando despercebidos. E nós? Será que estamos?
Existem
mais, claro. Não são apenas estes. Também outros o são. Também outros merecem
uma capa. Heróis como um tio, cuja paixão eram os aviões, cuja paixão era voar,
mas que nunca pode realmente abrir asas. Não passava de um rapaz. Um rapaz a
seguir um sonho que nunca chegaria. Ficou cego. Sim, cego. Tudo por causa de
uma brincadeira e uma granada supostamente desativada. Um azar que lhe tirou a
visão e a vida como a conhecia. Também o seu futuro lhe fora roubado. Estava
tão perto e não chegou lá. Herói? Parece mais alguém sem sorte. Mas sim,
trata-se realmente de um herói, de alguém cuja esmagadora força de vontade
prevaleceu sobre os obstáculos.
São
heróis como este que nos fazem pensar, aproveitar a vida, querer ser como eles:
fortes, perseverantes, felizes. Enfim, heróis. Pessoas que apesar de terem
perdido o seu sonho, a sua razão de viver, encontraram uma nova. Continuaram,
formaram-se em Direito, escreveram, fizeram pelos outros, fundaram e presidiram
a ACAPO e, acima de tudo, foram felizes. Conhecem algo mais irónico do que um
cego numa biblioteca? Bem, este cego criou o Serviço de Leitura Especial para
Deficientes Visuais, na Biblioteca Municipal de Coimbra, onde trabalhou até ao
fim da sua vida. Não ficou por aí, passou por muitos cargos, desde diretor das revistas
“Luís Braille” e “Jardim da Sereia” a pai. Sim, pai. Para mim não pode deixar
de ser um herói. Nunca viu a sua mulher, nem ela o viu a ele. Nunca viu os seus
filhos, mas criou-os e, à sua maneira, viu-os crescer. Foi alguém que não se
deixou levar pela corrente, que escolheu o seu rumo passando por cima dos
obstáculos, por maiores que fossem e mesmo não os vendo. Alguém com uma força
sobre-humana, força essa que a maior parte de nós apenas ousa aspirar a ter.
Como
ele há mais. Provavelmente não os vemos, mas em cada um de nós, há um herói.
Podemos não o encontrar. Podemos pensar que não está lá. Ou talvez apenas precisemos
de olhar com mais atenção.
Se
calhar aquela pessoa que nos serve o pequeno almoço no café, aquele taxista que
nos deu boleia depois de uma noite na Praça ou a senhora simpática do
minimercado do fim da rua também são heróis. Não há forma de saber, não os
conhecemos. Talvez nós próprios o sejamos. Não para nós, claro, para outros.
Um
herói não tem de mudar o mundo inteiro. Se mudar uma pessoa, já o tornou num lugar
melhor para todos. Pouco bem se faz em grandes quantidades. Um resultado qb
pode mudar vidas.
Josefa
Guerra, 3º ano
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